No século XVII a expectativa de vida era de trinta anos e nossa literatura clássica do século XIX apresentava personagens com quarenta anos de idade como idoso. Personagens com suas bengalas, bigodes fartos e chapéus anunciavam a velhice com seus 40, 45 anos de idade. É, parece coisa do passado, agora temos 60 aos e somos jovens, bom, pelo menos tô nessa...
Lendo uma resenha da "Quatro Cinco Um", percebi que a Era dos Extremos de Erick Hobsbawm tem compreensões difusas. Sim, sei, Hobsbawm falava em ciência, tecnologia, desenvolvimento, enfim, tudo para sermos felizes, porém duas guerras mundiais, conflitos e misérias nos levaram ao outro extremo.
Mas o texto em questão fala do livro "Longevidade:uma breve história de como e porque vivemos mais" de Steve Johnson.
Esse acréscimo existencial.
Esse acréscimo de tempos terrestres.
Esses 20 mil dias extras para saborear as cores de Gauguin. 20 mil dias de bonificação para curtir tudo o que Deus nos deu.
Ora, basta somar, passamos dos trinta para oitenta anos de expectativa em sol e terras brasileiras.
Bem, é verdade que não nasci há 10 mil anos atrás, aí é papo para o maluco beleza, mas Johnson lembra que há 150 anos passados, tomar água em torneiras era perigoso até em Londres e Nova York.
Agora nossa rotina tem luxos inimagináveis com uma medicina que vai varrendo nossos males para os subsolos.
É verdade que pandemias e doenças que achávamos desaparecidas ainda insistem em dar suas caras, porém é inegável ver nossos confortos e descobertas científicas permitem viver mais, muito mais.
Como dizia Erasmo Carlos, é preciso saber viver pois as tormentas da natureza vão e voltam assim como tormentas humanas, não é mesmo?
O velho Rei Roberto Carlos (o bom, na minha opinião), disse certa vez que estávamos surdos e que a verdade não mudou.
E para ultrapassar os raios das tormentas e viver sem aflições, realmente, é preciso saber viver.
Entender que as revoluções industriais como a da Grã-Bretanha e Francesa mudaram quantidades, mas e as qualidades?
Pesquisem como viviam os trabalhadores naquela fase histórica miserável ou lêem Germinal. Não tenho dúvidas de que preferiam trabalhar em campos de algodão invés de morrer lentamente nas minas de carvão. É, o conceito de progresso é relativo e complexo.
Johnson lembra como essência instituições mais justas e humanas:"talvez devêssemos ter uma organização internacional que nos ajude a decidir quais avanços científicos queremos explorar". Qualidade, é o que interessa para saber viver esses 20 mil dias.
Outra curiosidade que Steve Johnson traz é que muitos gostariam de viver 100 anos mas mesmo que a ciência consiga que o indivíduo possa chegar aos 150 anos de idade, muitos não desejariam pois "bagunçaria ritmos básicos da vida".
Há dois, três anos escrevi um texto com o título "Devemos Morrer", ou algo parecido.
Queria passar a ideia de que nosso tempo terreno é perfeito, apesar das malditas doenças. Lembrei daquele infeliz que tomou uma água milagrosa e se tornou imortal.
Pobre infeliz, sempre com a mesma aparência, veria seus familiares e amores chegarem a velheci enquanto ele rolava como pedra.
Incrível,não é mesmo?
Não devemos aceitar a morte?
Mesmo assim, gostaria de chegar aos 90, 100 anos...
Evidente também que o lado social entra no script, onde um deve aceitar o outro. De nada adianta pessoas que queiram mudar o mundo , mas não apenas "seu" mundo.
Quero distância do "sujeito cordial" de Sérgio Buarque, aquele que vê sua razão ser superada pelo coração, mas coração...dele...
Venceu, venceu, perdeu, perdeu...mané...
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