A vida tem coisas...
Era fã do jornalista gaúcho David Coimbra (faleceu no último mês de Julho com 60 anos), mas com o passar do tempo parece que ele mudou alguns conceitos e me incomodava muito suas críticas ao PT.
Chegou a escrever nos últimos anos que o partido dos trabalhadores havia acabado. Não era mais o mesmo David que eu tinha conhecido a décadas passadas. Revirando minha biblioteca "achei" um livro dele, o ótimo "Uma História do Mundo"(2012), ainda com resquícios do primeiro David Coimbra.
Uma História suave à Lá Peninha, com humor e curiosidades, mantendo fiéis os processos civilizatórios como diria Darcy Ribeiro. A Revolução Agrícola descrita numa rotina saborosa "com a descoberta da domesticação das plantas e animais, o homem conquista uma nova rotina que lhe dá segurança", diz David que lembra ainda que o neandertal não procurava o sentido da vida, simplesmente porque seu sentido de sua existência era...viver...
Na verdade quase botei fora o livro dele, não entendia seu rancor com o PT e relendo seu livro de 2012, reafirmo, (claro em minha opinião), era outra pessoa.
Tenho a mesma impressão sobre os últimos livros da historiadora Mary Del Priore, tenho cinco livros da "antiga" Mary e não sei não, nos últimos anos tá esquisito.
Retornando à Revolução Agrícola onde o antigo David Coimbra desliza a história com curiosidades acompanhando às mudanças dos ciclos, vemos as transformações do cotidiano do homem que vai aprendendo a lidar com a terra e a lavoura causando rupturas do indivíduo nômade quando passa a viver em aldeias.
A Agricultura enraizou as pessoas, com raiz mesmo e eles pararam com suas excursões para cuidar das plantações e passaram a viver em aldeias permanentes, afinal a alimentação estava garantida.
Não foi fantástico? Posteriormente surgem cidades e um comércio movimentado, um real processo civilizatório. David Coimbra vai deslizando as mudanças da rotina com resquícios até socialistas.
O que houve com nosso escritor?
Agora vamos a segunda parte, com a sabedoria diferenciada de nosso mestre antropólogo Darcy Ribeiro, outro patamar. Ribeiro lembra que a Revolução Agrícola foi o primeiro processo civilizatório há 10 mil anos atrás onde "algumas sociedades experimentam grandes progressos na sua capacidade produtiva devido a substituição da enxada pelo arado puxado por animais e uso de fertilizantes". Ribeiro, claro, vai além, desenhando os processos posteriores para revelar como e porque surgiram sociedades desiguais. Desiguais.
Insere revoluções de ensino, imposições culturais, o imperialismo, enfim, revela que numa revolução de ensino não se ensinam fatos mas idéias, características que escapam de certos autores.
O acesso.
Ou melhor, o acesso bloqueado.
O acesso controlado.
O acesso rastreado.
Perceber (não é dificil) porque o filho do doutor será doutor e porque o filho da empregada vai ser empregado.
Quanto a Revolução Agrícola em si, Ribeiro sugere conceitos como aldeias agrícolas indiferenciados e as hordas pastoris nômades, modelos que já descrevi aqui nesses blog várias vezes.
Com o surgimento das aldeias, a vida coletiva aquece as interações do indivíduo com sua nova amiga, a natureza, ou melhor, a agricultura...
Darcy Ribeiro esclarece vivamente pois conviveu entre tribos indígenas, compreendeu o ambiente e realizou trabalhos de campo com os Terena, Kainkáng, Bororo, etc, além de professor no Brasil e América do Sul, ministro, e mais, muito mais.
Mostrou a sociedade indígena além dos nossos livros escolares enquanto David Coimbra diz que "os índios não eram nada ecológicos, durante sua estadia no local, exauriam todos os recursos sem dó nem pejo". Apesar de David amenizar dizendo que os índios não fizeram isso por maldade e sim porque simplesmente era assim" (ah tá...explicado né?), podemos perceber como linguagens de literatura podem assumir posições estranhas não é mesmo?
Ênfases nebulosas...
Socorro Darcy Ribeiro...
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