Na década de 90 fiz uma disciplina do mestrado de Jornalismo na UFRGS, onde estudos sobre a Indústria Cultural e indústria cultural infantil eram o objetivo central. Esse texto está baseado uma resenha.
A complexidade de disciplinas que formam a comunicação contemporânea se afirma quando pesquisamos obras como a "História das crianças no Brasil" de Mary del Priore. A Nova História Cultural estabelece parâmetros essenciais e historiadores como Lynn Hunt e Peter Burke convergem com uma nova visão historico-social. A História vinda de baixo, uma das premissas dessa nova história, investiga o cotidiano do homem simples e do mundo infantil. Ao mesmo tempo a antropologia de Clifford Geertz corrobora com novas interpretações.
Lynn Hunt lembra que Michel Foucault estudou a "Cultura nos lugares mais auspiciosos dos médicos e nas transformações mais abrangentes e em disciplinas como a biologia e a linguagem". Mary del Priore dá sua contribuição em "História da Infância no Brasil", quando diz que "resgatar o passado significa dar vez aos documentos históricos, pesquisando nas menores marcas, iluminando educadores, padres e legisladores onde obtemos informações sobre a infância no passado". Apesar de reconhecer que nosso clima tropical foi obstáculo para deixar vestígios materiais no estudo da criança brasileira como berços, brinquedos ou roupas, ela destaca que por outras estradas é possível buscar novas evidências. Fotos nas fazendas de café e desenhos das fardas dos "pequenos soldados" que participaram na Guerra do Paraguai são exemplos capazes de voltar e configurar textos, côres, sons e cheiros do passado.
O clássico de Phillipe Àries "A Criança e a Família no Antigo Regime" apresenta duas teses que revolucionaram o tema, a escolarização e as transformações sociais da família com a emergência da vida privada. Ainda que o Brasil seja um país subdesenvolvido, ela lembra que "A historiografia internacional pode servir de inspiração, mas não de bússola" nas pesquisas nacionais. Uma das essências de Priore trata da criminalidade infantil e dos pequenos trabalhadores no Brasil.
Se nos anos anteriores esses problemas eram mais evidentes, agora, a globalização e as explorações urbanas acentuam a gravidade do tema pesquisado. Fica exposto que com o crescimento industrial, cidades como São Paulo entram em crise com as desigualdades sociais e pelas precárias condições habitacionais de suas populações carentes. Quem já leu "O Cortiço" de Aluísio de Azevedo sabe do que estamos falando.
O aumento da criminalidade surge ao natural, e para sobreviver crianças viram alvo e vítimas, e a partir daí surgem os primeiros institutos privados de recolhimento de menores, as "febens" do Brasil.
Vigiar e punir diria Foucault. Se no Brasil colônia, as crianças trabalhavam para seus donos, a industrialização não pode menosprezar crianças "que geram riquezas".
Problemas que permanecem em nossas metrópoles até hoje.
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