Adalberto, a Coruja

Já estou passando por mentiroso.

Preciso tirar uma foto do Adalberto.

O Adalberto é meu amigo ou amiga (não tenho certeza se é macho ou fêmea) a quase dois anos.

Independente do sexo, somos muito próximos e conversamos geralmente entre às 22h e meia-noite. É o horário dele (a partir de agora, defini que é macho). Raras vezes não aparece, e quando isso acontece, não pergunto nada, não desejo me intrometer em sua vida pessoal.

Mas quando ele aparece, fica me olhando com seus enormes olhos.

Não fala nada, mas respeito seu silêncio. Adalberto é um amigo diferente, e tento entender seu comportamento estranho.

Quando ele chega, fica só me escutando, como se fosse psicólogo.

Minha ladaínha é sempre a mesma, e é nesse momento que ele gira sua cabeça em 1280 graus, eu tento fazer o mesmo e me "esborracho" no chão. Esse é meu amigo Adalberto...uma coruja.

Quase todas as noites recebo sua visita. Ele chega e pousa num poste bem na frente da minha casa. Não é muito grande. Bom, eu acho, porque não sei os tamanhos normais de seus semelhantes. De repente, ele sai voando com suas asas abertas e a envergadura até assusta. Ele volta mais umas duas, três vezes, sempre no mesmo ritual, pausa, fica me olhando um 15 minutos, quando cansa da minha ladaínha e voa magistralmente. Apesar de seu silêncio, sei que somos amigos, caso contrário não voltaria, não é mesmo?

As vezes ele parece que deseja desabafar, mas não entendo.

"Cruuuuuu", ele diz, ou algo parecido (lembrando, já estou na oitava latinha, às vezes, num vinhozinho). Se estou na oitava latinha, o Adalberto é uma lata, porque fico falando, falando e ele quietinho, paradinho. Bom, cada pessoa com seu bichinho de estimação. Tem quem goste de cachorros ou gatos, tenho um amigo que acho que está de romance com um pavão, outros preferem cavalos e assim caminha a humanidade, nessa amizade entre homens e animais, parecendo uma confraternização divertida nos zoológicos.

Dizem que as corujas são lógicas e inteligentes, e adorei saber que elas gostam de ver o que se passa ao redor delas.

Espero que o Adalberto entenda, então, que estou me deliciando com minhas bebidas em casa devido à pandemia, impedido de ir nas casas sociais de grandes alegrias, como são conhecidos nossos bares.

Mas fiquei mais satisfeito ainda ao descobrir, (através do google), que quando recebemos visitas dessa ave noturna, é porque isso significa reflexão, um conhecimento racional e intuitivo. Que tal, o Adalberto é intelectual.

Outra situação interessante que reforça minha amizade com ele: Quem me segue no meu blog, sabe que gosto de ficar na área da frente, tomando meus "tranquilizantes" no escuro, eu apago todas as luzes de casa e fico curtindo minhas músicas favoritas.

E não é que as corujas enxergam no escuro! Esse Adalberto...

É mesmo uma relação inusitada, mas vale lembrar que a amizade é um desejo natural, todo indivíduo quer ter suas parcelas nessa bela criação humana. A felicidade pode ser alcançada assim.

O cantor Renato Teixeira corrobora com seus versos "amizade sincera é um santo remédio, um abrigo seguro...", comprovando que ter amigos é tão essencial como alimentos.

Até mesmo uma amizade com uma coruja. Tenho grupo de amigos no facebook, no cafezinho, na turma do futebol, mas com o isolamento social, estamos afastados, porém o Adalberto tá aqui, firme e forte.

Evidente que sempre devemos perseguir a felicidade, mas não se preocupar em ser o mais feliz de todos, mesmo porque temos a mania de achar que os outros são mais felizes.

Como a pandemia obriga a ficar em casa, longe dos amigos humanos, lá vou eu esperar a visita dessa minha amizade noturna, dessa estranha amizade sincera.

Como Renato Teixeira canta "lembre-se sempre que mesmo modesta, minha casa será sempre sua...amigo". Entendido Adalberto?