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  • cocatrevisan

Anos 60, 60 anos

Atualizado: 26 de out. de 2021

Estou chegando aos 60 anos. Com exceção do meu futebol, onde anos atrás corria uma, duas horas, e agora sou o primeiro a sair (em compensação sou o primeiro a ir pro bar), no mais, tudo vai indo de acordo. Faltam só dois anos para ter preferência nas filas, que beleza.

Sou dos anos 60, nasci em 1962, ano em que Bob Dylan lançou seu clássico dos clássicos, "Blowi'n in the Wind". A lenda do folk/Rock e ganhador do Nobel de Literatura, quer saber quantas estradas um homem tem que caminhar para que seja feito um homem, ou ainda, quanto tempo uma montanha pode existir antes que o mar a desfaça.

Ele tem a resposta, meus amigos, ela está soprando no vento. Mas credo. Eis o the Best, Bob Dylan...

Anos 60, 70. Excluindo os Anos de Chumbo, o que é impossível, a disciplina OSPB, Organização Social e Política do Brasil (sic) e outras aberrações, lembro da minha infância no edifício Augusto em Santa Maria. Ir na loja Macedo comprar chocolates confeti e ki-bamba. Para quem não conhece Santa Maria, a loja Macedo era tradicional na época, na Primeira Quadra, que depois se transformou no atual Calçadão.

Infelizmente após décadas, fechou ano passado e estão derrubando suas paredes históricas.

Lembro dos desfiles das bandas marciais dos colégios Santa Maria, do Manoel Ribas (Maneco) e das gurias "escocesas" do colégio Coração de Maria. Era um desfile dos mais tradicionais do Brasil e a rivalidade parava a cidade. A banda do colégio Santa Maria, com suas apresentações históricas, foi várias vezes campeã do Brasil em concursos em São Paulo. Meu irmão mais velho, Vitor Hugo Trevisan (faleceu ano passado) tocava pífaro em seu majestoso uniforme azul. Histórias de Santa Maria.

Ficávamos escutando Led Zepelin, Ney Young, Peter Frampton, Gênesis, Yes, Beatles, Rolling Stones, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Belchior entre outros gênios da música. Os toca-fitas dos nossos carros eram nossas armas e seguíamos Geraldo Vandré "onde as flores venciam canhões".

Para quem viveu na ditadura militar, o Bozo e sua turma é "fichinha".

Na verdade, pessoalmente não "sofri" na ditadura porque era criança mas posteriormente o horror dos militares foi publicado, editado, falado, desmascarado, etc. Quando o General Ernesto Geisel, presidente do país passou por Santa Maria, lembro que o colégio mandou todas as crianças com bandeirinhas do Brasil para receber o carrasco. Porque eu tava lá não sei.

Anos 60, 60 anos. Como diz a velha frase, o tempo passa.

Ler o Pasquim era obrigatório e o Rei Roberto Carlos ainda era muito bom, antes das suas "emoções" de fim de ano na Globo. Nós amávamos os Beatles e os Rolling Stones e...Os Flintstones, A Pantera côr de Rosa e Os Jetsons.

É, mas teve o golpe. Livros de Dostoiévski, Diderot, Stendhal, viraram "material subversivo". Imaginem, Dostoiévski comia criancinhas. Parece comentário do fascista Alexandre Garcia. Em Janeiro de 1964, João Goulart foi obrigado a demitir presidente e diretores da Petrobrás por...corrupção, era o golpe contra a Dilma, ops, Jango. (Qualquer semelhança é mera coincidência).

Mas tem mais, o secretário de Estado do Estados Unidos (sempre eles), Dean Rusk disse no dia 2 de Abril de 64 num congresso que "os militares do Brasil sempre se viram como guardiões do processo democrático". Juro, é verdade, o simpático rapaz disse isso, basta pesquisar. Inacreditável.

O imperialismo e o capital mandavam e desmandavam impondo suas ideologias e o comércio era geral. No Pasquim, Millôr Fernandes escreve uma breve história da cultura, onde um negociante descobre uma ilha perdida onde os indígenas possuem muito ouro. Ele vai até a ilha e troca centenas de tamancos pelo ouro indígena. Quinze dias depois outro negociante vai à ilha com centenas de colares para trocar com os indígenas. Eles aceitam trocar mas por...tamancos...tinham aprendido a ser comerciantes.

A turma do Pasquim era insuperável. Nem falei em Zuenir Ventura, Cassius Clay, Vietnã, Malcon X, Glauber Rocha, etc. Vou ter que escrever mais textos sobre os anos 60. Com certeza.

Por enquanto, fico com as palavras Bob Dylan, que surgia como um um "hurricane" e mesmo diante do caos, a vontade do poder não pode esmorecer: "Venham, venham todos...se vocês acham que a vida vale a pena é melhor começar a nadar, se não vocês afundaram como pedras porque os tempos estão mudando".

Eis Bob Dylan, the Best.

Eis porque o nome desse blog é "Violências Culturais" e como sempre, recorro às teorias da Escola de Frankfurt.

Jürgen Habermas, seguidor de Theodor Adorno e Max Horkheimer, alerta que parece que as energias utópicas foram consumidas, e estão esquecidas na história onde o horizonte do futuro fica obscuro, assim como nossa política.

Ele diz que "desde meados dos anos 70, o bem-estar se mostrou não apenas insuficiente e bloqueada estruturalmente, mas também implementada mediante fortes restrições à liberdade dos cidadaõs".

Então, caros amigos e amigas, vamos, vamos todos nadar como quer Bob Dylan...pois assim não vamos morrer na praia...

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