O filósofo Pirro(365-275ac) acompanhou o grande imperador Alexandre nas conquistas do macedônio quando numa dessas viagens e batalhas, conheceu monges hindus que viviam indiferentes ao sofrimento e a própria morte. Pirro reconheceu essa corrente como ceticismo e incrementou em suas bases essa doutrina que evitava julgar as pessoas. E como céticos, duvidavam de conceitos e paradigmas, colocando a incerteza em plano superior. A incerteza sobre tudo, destinos indefinidos, uma vez que não desejavam dogmas e evitavam julgamentos. Pois assim, se viviam na dúvida, não julgando, não perseguiam a verdade. Para eles, as verdades poderiam ter estradas diferentes. E com essas características, almejavam a paz da alma, a tranquilidade da alma que era chamada por eles por Ataraxia.
Com a suspensão do julgamento, poderiam se aproximar da Ataraxia justamente porque o cético vive na dúvida quanto à natureza do que é realmente o bem ou o mal. Mesmo porque, quem garante que a verdadeira verdade existe definitivamente? Os céticos nos mostraram exemplos dessas quebras de paradigmas. Distâncias, lugares e uma diversidade dos sentidos corroboram com eles.
Um copo visto de certa distância parece menor, e diante de outra vista pode parecer maior, assim como um carro ou um barco. Qual seu verdadeiro tamanho? Circunstâncias também nos deixam perplexos sobre a verdade quando estamos por exemplo, apaixonados, pois vemos belezas que não se confirmam em outras ocasiões. Onde está a verdade definitiva?
Cada indivíduo revela suas potencialidades conforme suas existências. No livro "Os Irmãos Inimigos" do grego Nikos Kazantzakis (mesmo autor de Zorba, o Grego) tem uma passagem que revela essas diversidades. O personagem Padre Yannaros tenta, sem sucesso, a paz entre gregos rebeldes, bolcheviques e fascistas.
Frustrado, é perseguido pelos dois lados e alguns argumentam que está perdido pois não define sua posição, não consegue ver onde está a verdade. A resposta do Padre Yannaros é emblemática, "Quem sabe se em andar às cegas consiste justamente minha razão de ser?".
Parece que a dúvida é tão necessária como a certeza. Acho que justamente por isso, as incertezas do homem pós-moderno não servem de ranços pra julgar atitudes do meu cotidiano. Não me preocupo com as atuais incertezas, pois confio na "complexidade" de Edgar Morin.
Busco a ataraxia, ela supera as crises da identidade da pós-modernidade(Stuart Hall).
Pirro e seus monges mostram o caminho.
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