Onde você vai? Até ali...
Porque não vai mais adiante? Ora, porque, porque...não te interessa...
Como é fácil criticar ou outros não é mesmo? Lembro que muitas vezes também fui só até ali. O medo do além ou do desconhecido me bloqueou.
Sair do meu conforto e da minha segurança? Tá loko meu?
Sim, priorizo a certeza, quero estar longe do inverossímil e próximo de sonos tranquilos.
Quando Dostoievsky esteve preso na Sibéria entendeu porque os assassinos tinham pesadelos e gritavam à noite: estavam mortos por dentro. O até ali dessa triste população já estava definido.
No terror.
Enquanto isso, só vamos perceber que somente com coragem passaremos por cima das nossas "definicões".
Já citei esse caso, mas como ele é didático e esclarecedor, vamos lá de novo com os pacientes do psicólogo e escritor Irvin D. Yalom (Quando Nietzsche Chorou). Num de seus casos, uma paciente fazia terapia a três anos mas estava desanimada porque não via progressos em seu tratamento.
Em determinado momento ela "trava", não sabe o que fazer e agride a todos em sua autodefesa. Quando questionada, ela simplesmente dizia, "o que quer que eu faça?".
Para não alongar, seu argumento servia para fugir de sua responsabilidade, seu momento decisivo de ir além. Conforme seu terapeuta, ela sabia exatamente o que fazer, mas quando se sentia pressionada, esperava ajuda externa. Ajudar a si mesmo assustava, era o até ali dela...
É, não tem jeito, o melhor caminho é ver como são as fatos, como sugere Sherlock Holmes, "não há nada de extraordinário em usar os olhos".
Mas qual o problema se eu quiser ir só até ali? Desde que seja o que você realmente quer, nenhum, a questão recrudesce se você quer mais, ir mais longe, ultrapassar o horizonte.
Bom, aí surge uma teoria mais conhecida, você terá que mudar sua rotina pois se fizer as mesmas coisas, vai ser impossível obter resultados diferentes.
Impossível.
Se eu for sempre na mesma padaria, nunca vou conhecer aquele pãozinho delicioso ( que minha vizinha faz uma propaganda), daquela outra padaria.
Impossível.
Quem pensou diferente foi o engenheiro da Torre de Babel com seu projeto fantástico. O megaprojeto não foi até lá, ficou por aqui mesmo e para piorar, ninguém mais se entendeu posteriormente.
O até ali foi ousado demais.
Agora, se quiser ir até ali, somente até ali e nada mais, coloque seu CD e fique só varrendo, só varrendo, é o que eles querem.
Quanto menor nossos passos adiante, maior a felicidade deles. Mas quem são eles? Como questiona o Engenheiros do Havaí, quem são eles, quem eles pensam que são?
São os mesmos que destruíram o mulato Lima Barreto e que criticavam ferozmente Machado de Assis. Naquela época, nossos mestres se defendiam com "papéis", como o Conselheiro Aires de Machado que disse que o papel era seu amigo e era decisivo para divulgar verdades íntimas.
Isso é literatura.
Ela revela caminhos para cada um definir seus limites, do individualismo ao grupo ou coletivo. Embora certos gênios não tenham essa escolha. Eles não tem esse direito.
Cada livro do Peninha, quero mais.
Cada livro do Juremir Machado, quero mais.
Cada livro do Augusto Cury, quero mais.
Bom, se eles são exceções, a culpa é deles, e eles que se virem com sua genialidade.
É, temos que andar e correr para não decepcionar o próximo nem a si mesmo, vamos...ninguém vai definir onde está o até ali...
E se não enxergamos o final, então o logo ali não existe e resta saborear o calor dos sol das brumas das manhãs outonais.
Excelente texto, um texto que leva a reflexão! Adorei! Transpor nosso ali de cada dia , requer uma dose de indignação da nossa própria inércia ! Não basta indignação sem ação. A primeira ação para sairmos dessa inércia incapacitante,vem através do conhecimento e do autoconhecimento. Quando sei que meu ali , não passa de um palmo a frente do meu nariz,sei que é preciso adquirir novos saberes . Não somente saberes ,mas o saber crítico, analítico e revolucionário!!!
Ou vamos até ali ou mesmo caindo levantamos.Porque sonhador não cansa.
concordo Coca. O até ali depende de onde cada um quer chegar
Abraco