Ceticismo, ou duas Verdades

Juro que é verdade. Não tenho dúvida nenhuma. Quantas vezes já ouvimos essas frases quando alguém fala com total convicção. Nós mesmos repetimos tais sentenças com os mesmos verbos e iguais "is".

Ter certeza numa discussão é um grande problema. E se o oponente também tiver certeza? São duas verdades, duas certezas. Que coisa.

Papo de maluco, mas o Ceticismo é isso. Para eles, não existe uma verdade verdadeira, e vou dar um exemplo: você pega um copo e afirma que o tamanho dele é este que está em sua mão

Outra pessoa numa distância de 10m diria que o copo é pequeno e outro ainda, com vários copos de vinho na "cabeça", veria então, "tamanhos desconhecidos".

Falando sério, o Ceticismo é muito curioso e gosto muito de seus conceitos. A doutrina teve origem com o filósofo Pirro(365ac-275ac), que acompanhou o imperador Alexandre em suas conquistas pela Europa e Ásia.

Quando o exército de Alexandre teve contato com os gimnosofistas, ascetas hindus, Pirro ficou fascinado com a filosofia deles.

A morte e qualquer tipo de sofrimento não eram questões importantes, eles deixavam a vida correr, como diria Zeca Pagodinho.

Entre várias caracteristicas, uma que muito aprecio é a Ataraxia, ou seja, a tranquilidade da Alma. O que mais podemos desejar em nossas peregrinações além de uma alma serena?

Vejam que passados mais de 2000 anos, a Ataraxia segue como essência, pois é fato que nossas almas pós-modernas são muito complexas e "agitadas".

Os céticos também almejavam não temer a morte, pois além de não julgar seus semelhantes, não pretendiam analisar ninguém e assim, seria mais fácil afugentar sofrimentos.

O que nós, elementos da pós-modernidade fazemos? Estamos sempre bisbilhotando o próximo, e por mais que me cuide, fico preso nessas armadilhas. Tenho que "frear" meus pensamentos. Somos diferentes, embora Geraldo Vandré tenha meu total apoio quando diz que "somos todos iguais, braços dados ou não..."

Paradoxo? Difícil, pode ser, mas a questão política tem grande peso nesse "entrevero". Enquanto isso, os representantes do Ceticismo não estão nem aí para preocupações típicas de nosso cotidiano. Eles acrescentam que o paradigma fundamental de seus conceitos elegem a dúvida como preferência.

Assim como quando Sócrates imortalizou a frase, "só sei que nada sei", elevando a filosofia e a moralidade extrema para um outro patamar, para um nível semelhante a uma terapia. Utilizando a filosofia para superar nosso horror à morte, o grego demonstrou uma terapia psicológica. São vários os ramos de um ceticismo que trata então, de uma corrente da filosofia onde a dúvida é um dos elementos centrais, pois não julgando, surge a viabilidade da Ataraxia. Não julgando, ficamos mais tranqüilos.

Eles não tem nenhum interesse em saber, por exemplo, se a Capitu traiu Bentinho ou não. A personagem de "Dom Casmurro", de Machado de Assis já foi tema de simpósios e palestras. Eu mesmo já participei de vários debates em universidades com essa temática.

Acho que, não, tenho certeza (ai , falar em certeza nesse texto é insano), que os céticos não teriam nenhum interesse nessas discussões. Eles não querem nem desejam julgar a suposta traição da Capitu.

Verdades, quantas existem? Assim como no exemplo do copo, as dúvidas ficam expostas. Quando alguém está apaixonado por sua colega de escola ou trabalho, por exemplo, ir estudar e trabalhar nessas duas instituições, seria como estar nas nuvens. Para o simplório, sem nenhum amor, poderiam exterminar tais instituições do universo. Qual a verdade?

Para complicar, ou simplificar (outra dúvida), o cético não define sua posição porque não se declarando, não afirma nem nega a traição da linda Capitu.

Azar o nosso que seguimos não tendo certeza se Bentinho foi traído ou não"...

Problemas de uma sociedade que está sempre julgando o outro, e preocupado em exercer sua superioridade econômica e social

Sempre de "olho" no vizinho, ou no concorrente. Enfim, viver nossas vidas, nossas realidades e verdades, essas podem e devem ser nossas prioridades. A verdade do outro, daquele que está no outro lado da estrada é dele, e somente dele. Se uma das duas verdades está equivocada, não nos cabe definir, apenas respeitar às outras opções

É o que a Ataraxia exige.