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Soma de idéias feitas

Atualizado: 2 de nov. de 2021


A Indústria Cultural surge com máxima representatividade quando Theodor Adorno e Max Horkheimer esclarecem nos anos 40 as artimanhas do campo na Escola de Frankfurt. Eles diziam que quanto mais seguros formam as posições da indústria cultural, quando expõem e manipulam suas ideologias, mais sumariamente ela pode proceder com as necessidades dos consumidores, "produzindo-as, dirigindo-as e mesmo suspendendo a diversão porque nenhum obstáculo se eleva contra um progresso cultural".

Apesar de toda evolução tecnológica dos meios de comunicação de massa, as palavras de Adorno, Horkheimer e Marcuse seguem atuais, basta observar nossa mídia atual. Convém lembrar uma das essências da Escola, quando esses primeiros teóricos aventuraram a relevância desse desenvolvimento tecnológico e tentaram repensar a natureza do papel da ideologia em relação a esse próprio desenvolvimento.

O contexto se revela. Vivemos época de uma mídia partidária. O escritor russo Mikhail Bakthin corrobora destacando que cada palavra é uma pequena arena para o choque e cruzamento de ideologias, uma palavra na boca de qualquer pessoa particular é um produto vivo de interações sociais. Nossa parte nesse mundo de interesses é perceber a semântica da nossa mídia, pois Nelson Rodrigues também está no jogo e garante que "o problema de nossa época é a opção. Somos pré-fabricados. É difícil ao homem ousar um movimento próprio. Nossa vida é uma soma de idéias feitas, de sentimentos feitos, de atos feitos, de ódios feitos e de angústia feita".

Reais violências culturais.

Pesquiso a temática há mais de 40 anos e minha monografia da graduação de Jornalismo na Unisinos(1988) foi "A Indústria Cultural na Sétima Arte". Desde então, me considero um genuíno frankfurtiano.

O termo, aliás, o conceito indústria cultural que surgiu no texto "Dialética do Esclarecimento" contou com inúmeras teorias esclarecedoras. E que esclarecimentos. Esclarecimentos que Immanuel Kant deflagrou quando desejava que o homem conquistasse sua emancipação, a sua maioridade. No auge do Iluminismo no século XVII, kant destacava que o homem estava muito distante do imaginário como homem independente, incapaz de ter o controle que as ideias iluministas propagavam. Ao contrário, o projeto, nesse sentido não prosperou. Assim, as teorias da Comunicação e dos frankfurtianos esclarecem poderes que atualmente assolam nosso cotidiano.

E nesses jogos de teses, Adorno e Horkheimer entraram como espadas em minhas pesquisas.

Me apaixonei e o amor segue correspondido. Os dois, indignados com o caos pós-guerra, fogem para os EUA levando suas pesquisas, embora Adorno já estivesse na América desde 1938 trabalhando na Universidade Columbia.

Ele aceitou convite de Paul Lazarsfeld para trabalhar com pesquisas sobre as influências dos programas musicais no rádio, num intercâmbio entre as teorias européias e norte-americanas. No início do projeto, as propostas divergiram mas ao longo do processo, surgiram novas teses essenciais para o conhecimento e "esclarecimentos" das novas forças midiáticas.

Seus conceitos refletem a relevância de Adorno, Horkheimer e demais gerações da Escola e suas discussões estão representadas em vários textos desse livro.

Como as teorias da Comunicação, essenciais na compreensão da mídia, suas posições e consequências. Elas transcendem sua disciplina, envolvem sociologia, psicologia, história, filosofia entre outras ciências. Como diria Edgar morin, essa complexidade gerou caminhos interpretativos para tais relações, sendo que as teorias da Comunicação tem propósitos de alcançar a "maioridade" de Kant, interagindo com os meios de comunicação de massa. O rádio (sim, ele resiste), a televisão, a internet, as atuais redes sociais estão 24h no ar, e no lar. Essas teorias confirmam os fenômenos sociais, portanto, que estão inseridos no cotidiano com seus processos de comunicação, e, que posteriormente se transformam em processos de dominação. É necessário ampliar a pesquisa, e a recepção entra no jogo. Ela repensa o lugar do receptor.

O fenômeno da mídia é conhecido, mas o receptor, em sua grande maioria, (desculpem a redundância), ainda não percebeu os interesses econômicos e políticos das grandes corporações. Verdadeiras máquinas de ideologias, frase defasada mas atual. Muito atual. A "maioridade" de Kant corrobora nos debates. Ela relaciona a mídia com as forças produtivas capitalistas e revisam conceitos. O indivíduo pós-moderno não pode perder sua hegemonia e resta fugir de semelhanças escravocratas no sentido ideológico.

Escrever, repetir, falar, escrever e repetir conceitos dos frankfurtianos, as palavras de Horkheimer, Adorno, Walter Benjamim, Marcuse, entre outros, são objetivos desse livro, assim como críticas aos meios que devoram opiniões alheias.

A essência do conceito "indústria cultural" comprova sua relevância para investigar tais instrumentos ideológicos e psicológicos nas relações sociais e culturais.

Como está no meu blog "Violências Culturais", são curiosidades desde sempre.

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