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  • cocatrevisan

Cidadão da Terra

Imagine você voltar para sua antiga casa e perceber que não é mais seu lar.

Perceber que não é mais "sua" casa.

Ou sua cidade.

Familiares já morreram assim como muitos amigos. Você caminha no centro e lembra dos tempos que conhecia todos, era uma festa, porém, o tempo passou e você não conhece mais os caminhantes anônimos.

Além do mais, a maioria dos amigos vivem em outras cidades, estados ou países.

Imaginou? Daí você comprova que não é imaginação...é você.

Até sua esposa ou nova namorada não são naturais de sua cidade, muito menos seus filhos, genros e netos.

Eis a real globalização.

Não canso de repetir a frase magistral do ator Peter Lorre num clássico Noir, "o tempo? Ah, o tempo é uma trapaça".

O flâneur de Walter Benjamin segue suas caminhadas com novos olhares, expectativas e observando os caminhantes desconhecidos.

Porém, desejo seguir minha jornada sem tristezas ou como um saudosista infeliz, quero ver o que tem atrás das curvas sinuosas.

Sim, ouvindo meus discos de vinil com emoções positivas lembrando do meu fusca com o toca-fitas rasgando Beatles, Bob Dylan, The Who, Led Zepelin, Zé Ramalho, Raulzito e entre mais vinte monstros sagrados...Zé Geraldo.

No frente do bar do Chico (que já naquela época não se chamava mais Chico e sim do seu Orlando) ou com meu fuscão estacionado nas praças de Santa Maria, São Leopoldo ou nas praias gaúchas de Tramandaí e Capão da Canoa.

Era um cidadão dos anos 70, 80 e 90, um cidadão da Terra.

Achando que o tempo era uma trapaça para os outros, não para mim, afinal eu e meu amigo Raul Seixas nascemos há 10000 mil anos atrás.

Minha viagem com o táxi lunar estava distante. E lá no futuro vou escutar meu vinil do Zé Geraldo enquanto meu bisneto vai ouvir seus cantores preferidos num aparelho com uma imagem na parede que por mais que queira apertar umas teclas, não consigo para as risadinhas irônicas do meu bisneto.

Ah se eu pego o pirralho...

Tudo bem, não vai chegar perto das minhas relíquias de vinil e meus CDs.

Vai ouvir eu cantando em voz alta os clássicos de Zé Geraldo e perguntando, "tá vendo aquele edifício moço? Eu ajudei a levantar", mas vou dizer mais, "tá vendo aquele colégio moço? Eu também trabalhei lá".

É, o tempo é mesmo uma trapaça.

Mas tem muito mais, quando o trabalhador pára para ver o edifício que ajudou a construir, "eles" questionam, o que ele está olhando, insinuando ser um ladrão.

Mas "eles", sempre eles, ainda dizem que a filha do trabalhador não vai estudar no colégio que ele se rasgou para terminar porque criança de pé no chão não pode estudar lá.

Mas quando chegou na Igreja que ajudou a rebocar, lá ele pôde entrar, "o Senhor disse, deixe de tolice meu rapaz, não se deixe amedrontar".

Cristo simplesmente disse " fui Eu quem criou a Terra, enchi os rios, fiz as serras e não deixei nada faltar".

Enquanto isso, eles, eles passarão...eu passarinho, dizia um certo Mário Quintana...

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