Evidente que não ser vaidoso pode gerar consequências negativas, mesmo porque ter vaidades faz parte da natureza humana, e ela é normalmente elemento saudável e necessária.
O perigo se revela quando as vaidades extrapolam, respingando no outro. Já ouvi falar que entre nossas principais paixões, a vaidade é aquela que mais se esconde, de tal maneira que sabota ela mesma.
Todo vaidoso não gosta de assumir que é em si, um ser vaidoso. Isso geralmente, porque existem muitos "Dorian Gray" por aí, insuportáveis.
Dorian Gray! Aquele que desejava uma beleza eterna, uma juventude sem fim, sempre bela. Um verdadeiro narcisista. A vaidade exacerbada revela, como na obra de Oscar Wilde, elementos de horror superando até mesmo outras características dela como a beleza.
E ainda, que é mais importante ser bonito aos outros do que para si mesmo. Evidente que não quero valorizar o desprezo, não se trata de uma preferência errônea, longe disso.
Apenas frisar que uma vaidade excessiva não move montanhas. Um dos personagens de Wilde alega que a sociedade tem culpa nessas relações quando diz que os vaidosos são um perigo: "para não sermos vistos como selvagens, vivemos na auto-negacão, e isso deforma nossa vida", diz o nefasto amigo de Dorian. Em outras palavras, todos disputam uma guerra de egos e normalmente conhecemos vaidades alheias melhor do que as nossas, não é mesmo?
Mesmo assim, temos que reconhecer que a vaidade está casada com nossas auto-afirmações, pois elas são virtudes essenciais para nossos sucessos profissionais. Não tem jeito, é o amor próprio.
Que tema complexo. Não vou chegar, nem pretendo, a uma definição se a vaidade é "boa ou ruim" para todo e qualquer indivíduo.
Acho que nós todos concordamos que ninguém sem doses de vaidade conseguirá alcançar seus objetivos, porém, convém ressaltar que em excesso, ela pode ter respostas catastróficas como o fim de Dorian Gray.
Um desconhecido filósofo brasileiro do séc, XXVIII, Mathias Aires disse que "o homem que tiver uma vaidade medíocre será incapaz de preemeditar empresas e de concretizar seus projetos, pois tudo nele é sem calor, e sua vida uma espécie de letargo". Vejam só, até a letargia está inserida em seus paradoxos. Uma pessoa sem ambições, sem calor, como diz Mathias Aires, estará com certeza afastada de seus objetivos. A luta contra a letargia faz parte entre as várias batalhas da existência.
E assim, as contradições só aumentam. Por um lado, a timidez retrai nossos objetivos obstruindo nossos caminhos, e talvez aí esteja a relevância da vaidade. E por outro lado, ela requer pessoas "desembaraçadas", o que reafirmaria nossa confiança. Assim os receios ficam afastados, mas as contradições seguem em nossa vida teatral. Somos representados por aparências onde tudo faz parte de um grande teatro. Muitos sociólogos confirmam essa caracteristica, (até concordo), mas não generalizo pois dá a entender que somos seres humamos vivendo um mundo de ficção.
A vaidade e o ego estão juntas, sim, em nossos cotidianos. Não podemos negar, mas dizer que vivemos sempre "fingindo", também é exagero.
Então, sim, a vaidade está inserida em nós, só que devemos nos policiar para não virar uma obsessão. A busca da fama e seu delírio "resulta e depende a sociedade", conforme Aires porque na busca desenfreada dessa fama, surge outro fenômeno, pois "a vaidade de serem atendidos reduz à trabalhosa ocupação de indagarem os segredos da divindade, o giro dos astros, e os mistérios da natureza...a vaidade de serem leais os faz obedientes e a vaidade do amor, da reputação os faz virtuosos".
É a vaidade se aproximando da fama. E temos que lembrar que em cada fase de nossa vida, as vaidades mudam, pois nós mudamos. Talvez na juventude as pessoas tendem a ser mais vaidosas, mas não significa que adultos e velhos percam o interesse.
Cada fase é uma fase (que frase profunda...), e não temos capacidade de brigar com o tempo, para não seguirmos o exemplo de Dorian Gray. Ele era um caso extremo, era nefasto, basta ver o que Basil, quem pintou o famoso retrato falou para ele, "sua amizade é ruim para os jovens, um de seus amigos se suicidou e outro abandonou o país com sua reputação manchada..."
Eis os males de uma vaidade exagerada. É mesmo complicado.
Pois, pode-se dizer ainda que se alguém não visualiza a vaidade como prioridade será menosprezado. E agora?
No meu perfil do Facebook, incluo ser epicurista, pois Epicuro propõe quatro remédios para enfrentar nossas agruras, a "Tetraphármakon", não temer os Deuses(1), a morte(2), sermos capazes de suportar nossas dores(3) e assim ser felizes(4). Uma receita para assimilar "boas e más" vaidades. Vejam Dorian, tinha pavor da morte e não suportava a dor da velhice.
Mathias Aires em seu livro "Reflexões sobre a Vaidade dos Homens"(1752), revelou todos os benefícios, perigos e males da complexa vaidade. Quem diria que em época de filósofos com o Kant, tivemos um brasileiro representando nossa cultura. Mesmo que desconhecido.
Ariano Suassuna fazia uma palestra para estudantes e perguntou quem conhecia Mathias Aires, apenas um levantou o braço.
Suassuna perguntou quais obras do filósofo brasileiro ele conhecia ou quais artigos. O estudante respondeu que nenhuma nem outra, é que ele morava na rua Mathias Aires...
Belíssima matéria. E como sempre, você abre inúmeras vertentes para nos estimular a refletir sobre a questão.
Penso que todo comportamento capaz de florescer o melhor de nós é virtuoso, pois só podemos oferecer o que somos. É claro, que tudo em excesso, causa danos... até mesmo o aclamado amor.
Qualquer atitude excessiva, manipuladora e exclusivista é destrutiva e escravizante.
O essencial é compreender a natureza de nossas condutas - excessos e faltas, luzes e sombras - e ter consciência de seus reflexos sobre o outro e sobre nós mesmos. Esse entendimento e discernimento nos levará à busca do equilíbrio e do autoconhecimento. E a vaidade? É claro que, pelo menos, em algum termo, somos vaidosos! Mas se for p…
Conheci Mathias Aires através do padre Antônio Vieira pela vaidade herdada do seu pai. Talvez esteja aí uma das mais preementes figuras de nosso país, de talento tão pouco conhecido e reconhecido. Parabéns pelo texto!