Gosto de História porque ela está sempre se reformulando. Sim, o passado muda. Nossa visão não pode ser uma caverna sem expressão, tem que ter brilho. Não podemos negar que a história e a memória transportam a aura individual de qualquer pessoa. Mas podem também revelar caminhos e castelos mal-assombrados.
Assim como o mestre Jesus ri dos nossos futuros projetos, é ELE que decide, a História dá gargalhadas das tentativas de enquadrar a disciplina em teorias definitivas.
Outras disciplinas oferecem rumos diversos para a História tradicional, da mesma maneira como a História Cultural, a microhistoria ou a Nova História Crítica. A geologia, por exemplo, que ensina que os mares avançam sobre terras e terras que avançam sobre mares, transformando processos históricos.
O escritor Milan Kundera diz em "O Livro do Riso e do Esquecimento" que em 1948 o líder comunista Klement Gottward discursava para uma multidão na praça da Cidade Velha. Como estava muito frio seu camarada Clementis ofereceu seu gorro, e a foto virou ícone na Tchecoslováquia. Passados alguns anos, Clementis foi enforcado acusado de traição. O governo simplesmente tirou Clementis da foto histórica. Situações que separam contextos e processos históricos. Mudam regras, fotos, tudo, até que nossa identidade perca características únicas. Coisas da pós-modernidade.
O autor Stuart Hall, professor na Inglaterra, relaciona cinco etapas que inovam levando nossas identidades do céu para o inferno.
Ele situou grandes personalidades para justificar esses avanços denominando essas fases de descentrações. Marx, Freud, Saussure, Foucault e o feminismo dos anos 60 deslocaram nossas identidades e nossas vidas passaram por mudanças radicais. Marx dizia que os homens fazem parte da história, mas daquela história à qual são impostas enquanto Foucault garantiu que somos "vigiados e punidos" por instituições como escolas e quartéis, enfim, cada descentração trouxe novos comportamentos na sociedade pós-moderna. Pode ser que a pandemia do coronavirus nos leve a novos hábitos e valores surgindo a Sexta descentralização, uma nova ordem mundial.
E lembrar que de Clementis só sobrou o gorro na cabeça do dirigente comunista.
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