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Costumes Absurdos

Atualizado: 21 de out. de 2021

O hoje é hoje. O costume de hoje não vai ser o de amanhã, muito menos será o de ontem. Um hábito do cotidiano considerado normal, foi outrora, um absurdo ou mesmo ridículo. Facetas de nosso mundo.

E não tem como ser diferente, meu tempo é agora e se ficasse congelado por 100 anos, renasceria num outro "mundo", muito diferente.

Com certeza veria meu Grêmio imortal campeão da Via Láctea, numa final dramática contra o melhor time de Saturno.

Ainda assim, reviver daqui um século seria uma roubada, quantos costumes absurdos teria que assimilar. Lembrei do clássico "O Processo Civilizador" de Norbert Elias onde o escritor revela desenvolvimentos, ou simplesmente mudanças de hábitos no dia-a-dia.

Na apresentação do livro, Renato Janine Ribeiro, sempre ele, diz que a própria moralidade não é um traço natural. Ele mostra que até garfos e facas são instrumentos que inovaram na alimentação do indivíduo, pois antigamente as pessoas se alimentavam com as próprias mãos não é mesmo? No decorrer dos tempos, as estruturas das sociedades passaram por transformações de todas as esferas incluindo hábitos do cotidiano às constituições psíquicas. Freud que o diga.

Inúmeras organizações sociais e sistemas políticos acrescentaram revoluções ao longo dos séculos o que resultou em novas visões de mundo. A infância, por exemplo, não existia no passado, o mundo da sociedade infantil não é como conhecemos hoje. Não tem jeito, todo indivíduo está à mercê de influências desde seu nascimento.

Se as crianças seguem exemplos do adultos, nós simples mortais acompanhamos de braços dados padrões que mudam junto à fogueirinha de papel. E ultrapassamos fogueiras trágicas como das piras loucas dos inquisidores. Aliás, taí um exemplo, pois apesar de algumas intolerâncias religiosas atuais, as inquisições foram costumes absurdos da idade média. Se bem que dá vontade de mandar Malafaias e Waldomiros, esses falsos profetas para as brasas do inferno.

Com tais aberrações temos o dever de escolhas com total reflexão, pois todas tem seus preços.

Em 1852, Fontane disse que o alemão vivia para viver, o inglês para representar, o alemão para si mesmo e o inglês para os outros. E os brasileiros do século XXI vivem para eleger mitos insanos com ideologias e costumes absurdos...

Porém, a essência de Elias falava de hábitos e suas mudancas ao longo de cada época. No capítulo onde ele lembra cenas medievais, ele exemplifica essas inovações, como comer com facas e garfos, e comprova como o cotidiano se molda nos processos históricos.

Tudo muda com novos aparelhos atingindo "nossos sentimentos e emoções, a estrutura de anseios e impulsos e tudo ligado aos homens que mudam tambem", acrescenta.

Se o filósofo Descartes hoje é massacrado, em sua época foi revolucionário. Afinal até a psicanálise interfere nas teorias filosóficas. Mas o hoje é o hoje e nossas ações repercutem sempre, porque o novo está à espreita.

E os costumes absurdos integram essa dança louca das borboletas e não temos certeza quem vai agir, mas cuidado, não caia...alerta Zé Ramalho. E nossa complexidade humana garante inovações através dos seres diferentes, aqueles que querem se libertar das correntes ideológicas malignas e optam por caminhos "irracionais". Caso contrário, tudo seguirá sempre o mesmo, com rotinas absurdas e incoerentes.

Hoje mesmo procure inovar, faça algo diferente, nem que seje uma pequena mudança em seus hábitos. Não ligue a TV, e à noite sente num lugar esquecido da sua casa. Saboreie um vinho naquele cantinho escondido. Dias desses, peguei um sofá e tomei meu vinho na calçada. Foi, pasmem, um momento surreal.

Pequenas atitudes podem causar grandes surpresas. Na próxima vez que sair, troque de restaurante ou bar, você vai ver, pode parecer bobagem, mas...experimente.

Camus escreveu no Sísifo: "enquanto o espírito se cala no mundo, imóvel de suas esperanças, tudo vai se ordenar na racionalidade de sua nostalgia". Vejam só o perigo, até a nostalgia está à espreita.

E em nossas incertezas, as esperanças pedem ações para o "novo". Quando a rainha Dido, de Cartago estava presa numa torre em sua masmorra, sempre pedia para sua irmã Ana, ver se lá no horizonte vinha alguém para salvá-la. A esperança é salutar, sempre. Pode até em alguns momentos ser um costume absurdo, mas sua companhia é sempre bem vinda.

Martinho Lutero transformou o conceito de trabalho com suas leis, e o trabalho que na época medieval era para as classes subalternas e pior, para escravos, agora dignifica o homem. Que transformação. Assim, o cotidiano se revela com absurdos e absurdos passam em nossos cotidianos.

Fico relembrando passagens da minha vida e modas ridículas como calças "boca de sino", lembram? Tinha que cobrir sapatos ou tênis.

Na infância, no pré-escolar, usava um uniforme no colégio Coração de Maria, em Santa Maria, com uma bermuda vermelha e meias compridas. Dou risadas quando vejo essas fotos.

Alegam que um costume absurdo é nascer, viver e morrer, como dizem os filósofos. Porém, não renunciar à vida em seus piores momentos é nossa obrigação. Schopenhauer dizia que suicídio é um "aniquilamento total", o que não garante nem resolveria problemas.

Melhor seguir Gonzaguinha, viver e não ter vergonha de ser feliz, não é mesmo? Oremos para que nossos cotidianos sigam com costumes, racionais ou absurdos...Amém...

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1 Comment


janembh
Oct 23, 2021

Vivamos com nossas estranhezas e absurdos, mas vivamos!

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