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Descatastrofizar

Atualizado: 30 de out. de 2021

A palavra é feia. Muito feia, mas com propósitos lindíssimos. Lembra temas referentes à frase "sofrer pelo futuro", ou pela maldita ansiedade.

A escola do Estoicismo torna-se essencial para essas discussões, com seus segredos que podem servir de terapias para a atual sociedade. Como o título do texto sugere, trata-se de tirar do nosso vocabulário a palavra catástrofe.

Ao perder um emprego, trocar a frase "o que vai ser da minha vida agora?", para "amanhã vou procurar outro".

E se não conseguir?

E daí, procuro outro, e outro e mais outro.

Trocar, como os estóicos sugerem, o "e se" pelo "e daí". E perceber que até mesmo emoções negativas podem ter boas perspectivas.

Sei, falar é fácil. Não pretendo ser um autor de auto-ajuda, mas sei que reclamar não vai adiantar nada, nadinha, nada mesmo. Não temos opções. Não tem lógica e lembremos, a lógica é uma arte de pensar.

Mas sei, falar é fácil. Também acho, mas como sou fã do Policarpo Quaresma, não quero ter seu triste fim. Tenho um amigo (todo autor tem um amigo para seus exemplos, não é?), que é mestre em pessimismo. Seus dramas são para Sartre ou Nietzsche resolverem. Ficava muito nervoso imaginando o que seria de sua vida depois que seus pais morressem.

Eles morreram e sua vida seguiu conforme as leis naturais. "E quando eu ficar velho, como vai ser? E se eu ficar numa cadeira de rodas?" E se? E se?...tá loko.

O terapeuta Donald Robertson diz em seu livro "Pense como um Imperador", que os estóicos pensavam em formas diferentes, buscando sempre amenizar a catástrofe. Ele narra um episódio com o estóico Paconius Agrippino quando soube que seria banido de Roma pelo louco Nero, disse que teria ótimo almoço na sua viagem de exílio, pois conhecia um lugar agradável para almoçar.

Em tempos de pandemia, essas reflexões podem servir de consolo.

Ficamos alarmados, é o fim dos tempos, mas esquecemos o que foi a Peste Negra no século XIV, quando um terço da humanidade sucumbiu. Imaginem, em cada três pessoas, uma morreu.

Uma prisioneira de Auschiwitz disse que para quem passou dois anos naquele inferno, o coronavirus não é nada.

Temos o péssimo hábito de valorizar nossas doenças, e se 5% de nosso corpo não está saudável, esquecemos os outros 95% e colocamos o foco nesses 5%. Sempre cito essa máxima de Schopenhauer.

E se falar é fácil, lembremos que o filósofo Epíteto, ícone do Estoicismo, viveu grande parte de sua vida como escravo. Querem mais...

Então, os estóicos sabendo que o sofrimento faz parte de nossa existência, ensinaram que devemos ignorar tal sentimento.

Sim, já sei, você disse que falar é fácil, e concordei mas não pretendo ficar remoendo dores e tristezas.

Mas acho que é bem melhor correr atrás das coisas boas da vida, porém como Epicuro alertou, sempre sem exageros. Brigo comigo mesmo, quando termino o primeiro vinho e vou abrir o segundo. Que drama meus amigos Zenão, Marco Aurélio e Epicuro, mas como dizem que vinho leva a longevidade, bom, eu gostaria de chegar aos 100, então...

Retornando aos ensinamentos dos estóicos, outra característica interessante é se colocar no lugar dos sábios diante de adversidades.

O que Zenão faria em tal situação?

Como o terapeuta Robertson diz "pense em quando você está angustiado, não tende a exagerar e usar uma linguagem emocional e vivida para descrever as coisas, tanto para você como para os outros".

Aqui agora temos que descatastrofizar (ô palavrinha), surgindo a viabilidade de rever situações onde elementos mais reais podem fazer a diferença.

Como as velhas orientações, quanto mais nos policiar, mais distantes ficaremos das catástrofes.

Porque é fato que normalmente, depois de analisar profundamente qualquer situação, com as visões mais realistas possíveis, a tendência é surgir melhores maneiras para lidar com imprevistos ou "catástrofes".

Podemos imaginar ainda como vamos pensar sobre nossos problemas daqui alguns anos. Pode ser que até achemos graça. Lembre de situações "terriveis" que você passou em anos passados e hoje dá risadas desse mesmo fato.

O relevante para Donald Robertson é que a terapia atual pode, e deve, usar técnicas dos estóicos...2300 anos depois...

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1 Comment


janembh
Oct 14, 2020

Valdocir, Muito importante você levantar essa questão, pois às vezes os hábitos vão sendo incorporados de tal de forma que se tornam imperceptíveis (os bons e os maus). E como é terrível valorizar o catastrófico em detrimento de uma visão mais leve da vida e de si mesmo. E o pior que esse comportamento se torna tão arraigado que a pessoa não vê meios de agir de forma diferente. Então, passa a ser uma filosofia de vida.

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