Quando estamos em crise, em fases difíceis de nossa vida, tudo e todos são culpados. Não poupamos ninguém. Até Deus é culpado. Onde "Ele" estava quando mais precisei, onde se esconde, onde fica seu esconderijo. Difícil entender que se Ele se esconde é porque muitos não desejam sua presença. O livre arbítrio. E quando estamos doentes de corpo ou alma, nossa visão fica ainda mais sem ânimo para perceber onde está faltando peças em nossas máquinas existenciais. Se uma pequena parte, física ou emocional não está correspondendo, mesmo que seja cinco por cento, ficamos à deriva. Nossa mente esquece os outros noventa e cinco por cento e centramos nossa atenção à parte dolorida. O filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860) disse que "do mesmo modo, quando todas as nossas empreitadas transcorrem segundo a nossa vontade, mas uma única escapa à nossa intenção, então essa, mesmo que seja de menor importância, vem sempre à cabeça".
Uma outra maneira para avaliar nosso grau de (in)felicidade seria analisar quais as coisas que afligem as pessoas. Deveria ser quais as que alegram, mas distúrbios levam a outras preocupações.
Outros exemplos podem clarear esses embates. Li alguns anos um desses exemplos, num dos livros de Max Lucado, que nunca mais esqueci. Conta um relato de um homem amargurado que não entendia porque vivia tão infeliz. Perguntou ao padre da paróquia que lhe aconselhou conversar com seus vizinhos, buscar amizades, quem sabe Deus está tão próximo que poderia até mesmo ser um dos vizinhos. O Messias um dos meus vizinhos? Não pode ser. Seu Antunes da padaria? Não, não, muito rabugento. Dona Clarissa da bela casa na rua ao lado também não poderia ser, muito esnobe. Seu Alberto da casa com portão de quatro metros de altura, não, ele não...
Começou a observar seus vizinhos e vieram descobertas fantásticas. Seu Antunes não era tão rabugento, pelo contrário, uma pessoa prestativa assim como seu Alberto e dona Clarissa. Com os dias seguindo, um após o outro, ele percebeu que estava passando por mudanças radicais e viu belezas, amizades em vários vizinhos que conviviam com ele a mais de quarenta anos. Mudanças que levaram a uma vida mais calma e feliz. Até hoje, na verdade, ele não sabe dizer se os deuses eram astronautas ou um dos seus vizinhos, mas que com alma e espírito mais leve poderia viver e sentir uma insustentável leveza do ser.
Incrível não é mesmo? Temos vizinhos há 40, 50 anos e não sabemos como eles pensam.
Pessoas que poderiam ser grandes amigos, mas pelo ritmo do homem pós-moderno, não houve "tempo" para certas intimidades. E por outro lado, rancores se arrastam por décadas, sem motivos. Fica o alerta, pois até sua outra metade pode estar mais perto do que você imagina.
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