Para o diplomata e doutor em História, Luis Cláudio Villafañe G. Santos, o Barão do Rio Branco foi tão essencial em nossa história que o próprio Villafañe chegou a publicar um livro chamado "O Evangelho do Barão ".
Que o barão foi personagem na história do Brasil, não tenho dúvidas, mas chamar suas obras de evangelho...
Reconheço, seu legado está inserido no "contexto social e intelectual do Brasil naquele momento rico em situações que possibilitaram a construção da nacionalidade e a modernização de nosso país", segundo Villafañe, porém como Itamar Assunção narrou em seu livro "Cafeína", os barões sempre estiveram enrolados no "encilhamento", na escravidão, etc.
À frente do ministério das Relações Exteriores entre 1902 e 1912, o Barão enfrentou crises da jovem República que ansiava afirmar sua identidade. Aqui já começa o entrevero pois os barões queriam retornar à monarquia onde seus lindos títulos tinham mais representatividade.
Porém, (como eles são sempre eles), naquela fase histórica outro monarquista e também Barão, o Conselheiro Antonio Prado, cafeicultor paulista, não titubeou para apoiar a República depois de receber a concessão para abrir o Banco do Comércio e Industria de São Paulo.
Querido.
Enquanto isso, Villafañe ressalta que a atuação do Barão seguia a construção de uma nova identidade para o país.
Novamente lembro, realmente os feitos do Barão foram significativos, muito significativos, mas "evangelho"...
Ora, temos uma história de 500 anos de injustiças de todas as ações comunicativas e definir uma fase histórica ou um personagem como evangelho?
O próprio Villafañe diz que nossa independência não tem nada a ver com o 7 de Setembro, apesar de um certo nacionalismo pedir espaço.
E faz tempo.
E não faz muito tempo, um presidente (?) se deliciava fazendo continência à bandeira norte-americana com apoio principalmente daquela corrente vira-lata.
Fatos e opinioes surreais do último país a declarar o fim da escravidão, sim, o país dos Barões, que acreditem, no século XIX pediam extradição com países vizinhos para a devolução de escravos fugitivos ou serem "ressarcidos". Não, não escrevi errado, exigiam ressarcimentos...
Querem outra? Sabem daonde surgiu o termo "para inglês ver"? Em 1826, sob pressão, o parlamento brasileiro se comprometeu a abolir a escravidão no prazo de três anos, data que nem os ingleses acreditaram.
É, não seguiram o evangelho (ok, o tal evangelho chegou mais tarde, mas enfim...)
E convém ressaltar que o próprio fim da monarquia exigia uma nova identidade para o brasileiro comum, e se a jovem República mudou conceitos, o normal seria surgir novas formas sociais, ao natural, não por um evangelho...de um Barão...
São muitos os evangelhos, como o dos militares que forçaram a proclamação da República (para não dizer que foi golpe), como o evangelho dos Barões do Café, como do evangelho das oligarquias regionais com o primeiro presidente civil Prudente de Moraes e mais recentemente com loucos rezando na frente de quartéis.
Eis os dúbios evangelhos, de difíceis coerências, de morrer pela pátria com bíblias mortíferas nas mãos.
E tem mais, Villafañe lembra que o Barão "patrocinou" a vitória de Mário Alencar sobre Domingos Olímpio(Luzia Homem), pois o Barão havia brigado com Domingos e influenciou na escolha do filho de José Alencar. Além do pai ser escravocrata, sim, José de Alencar era escravocrata, Domingos Olímpio é superior à Mário Alencar (claro, em minha opinião).
Ainda mais depois da beleza da Jovem Claudia Ohana no filme de Fábio Barreto de 1987.
E finalmente deixar claro que evangelho quer dizer "anúncio alegre", o que me remete ao verdadeiro evangelho, aquele que diz que são "felizes os que acreditaram sem ter visto"(João 20, 29).
Se as verdades e as mentiras podem ser dúbias, como definir quem é o forte ou o fraco? Théckhov questiona, "não foram os fortes que crucificaram Jesus?".
Alguns alegam que sim, mas o personagem Diácono de Tchékhov em "O Duelo" discorda alegando que os algozes de Jesus foram...os fracos...
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