Se peguei na mão dela por medo de avião, pelo menos estava voando.
Pior, mas muito pior mesmo, são aqueles que podem voar, tem esse poder mas no primeiro vento contrário, caem como mosquitos abatidos pelo mata-moscas. E são esmagados.
E se caímos no primeiro ventinho, chego a conclusão de que nossos vôos, aqueles que sucumbem, são uma trágica comédia. Quem diz é Dante Aleguieri, o mesmo da Divina Comédia, onde ele narra uma viagem de um apaixonado que viu seu amor morrer e atravessou o purgatório, o inferno e o paraíso em busca dela.
Enfrentou nove círculos no inferno, níveis de todos os tipos. E nós, seres pós-modernos, viajantes do espaço, caímos no primeiro ventinho...
Uma vez perdi um amor e fiquei dias e mais dias dentro de um bar. Que corajoso né? Bom, é que vocês mulheres são muito fortes, gurias, e não tive vergonha de "beber" minha fracassada história de amor. Por sorte, depois de vários dias, viriam muitos outros dias...
E também, outra vez com sorte é que estava num bar, se tivesse voando o tombo seria grande. Mas tudo passa e estamos prontos para voar novamente.
Posso não ser um pavão misterioso nem um pássaro formoso mas tudo é mistério em meu voar, e se eu voasse assim, teria muita história para contar (Ednardo).
Além do mais, tudo é movimento e os deslocamentos sempre acontecem. Na chão e no ar. Na terra e no céu. Em "Vidas Secas"(1938), Graciliano Ramos narra uma jornada para as vidas molhadas de uma família para o litoral, e eu mesmo já mudei de cidade 6 vezes e de 21 endereços. Deslocamentos, movimentos, correria. Basta ver o trânsito nas grandes cidades. Carros, ônibus, metrô, uma loucura. E no primeiro ventinho, caímos. Dante diz, sucumbimos.
E pior, é verdade, se tudo vai bem, ninguém segura o peão, mas apareceu um probleminha, é o fim.
Não suportamos adversidades.
E não esqueçamos que vivemos época de incertezas. Como não estamos fixos, só Deus sabe o que será o amanhã. Se não estou seguro nem no chão, como voar? Sim, sei, temos potenciais, mas sabem como é né, o vento...
Melhor ficar caminhando ignorando perrengues do cotidiano, não vendo o que há de ruim, encarando ventanias terrestres.
Já disse, não sou um pavão misterioso nem um Condor dos Andes. Porém, sigo firme, acompanhando meu tempo, sem passos maiores, aqueles que só vão trazer ansiedades. Encarando sim, ventos contrários, mas sei que eles são apenas (apenas?) o tempo e o vento.
Lindo texto! Um poema! Que aprendamos a voar sem precisar que o outro nos impulse. Parabéns!