IsaÃas Caminha trabalhava como contÃnuo no jornal O Globo, no inÃcio do século XX, lutando para sobreviver com seu salário medÃocre. O personagem de Lima Barreto, porém, percebe o que representa o jornal, suas opiniões, sua força ideológica e manipuladora, enfim, seu poder como formadora de opinião. IsaÃas sempre lembrava que "as conversas da redação tinham me dado a convicção de que o Dr. Loberant era o homem mais poderoso do Brasil, fazia e desfazia ministros, demitia diretores e julgava juÃzes e presidentes".
Vou relembrar, estou falando dos anos 30, 40, 50 e Loberant não é Roberto Marinho ou Datena.
É pessoal, o gado sempre existiu e vai longe ainda depois de eleger um "mito" (o mundo zomba dessa figura politica), e podem ter certeza, vem ainda o Mito II ou outras aberrações, agora com apoio de religiosos da Rede Record e outras vias "ideológicas".
Quando decidi colocar o nome nesse blog de "Violências Culturais", um de seus principais cernes era seguir denúncias da indústria cultural, suas teses e suas costuras polÃticas. As pioneiras teorias da Escola de Frankfurt quando Theodor Adorno e Max Horkheimer criaram o conceito "indústria cultural". Aquela indústria que revela que não somos donos de nossas palavras e que somos programados por uma mÃdia poderosa, seguindo os rumos como se fôssemos gado (Ops, eu não...).
Essas questões são essenciais na proposta desse blog, e ainda que a classe acadêmica considere essas pesquisas superadas, sigo as teses dos frankfurtianos por sua atualidade e representatividade em nosso cotidiano. Pode ser tema considerado como ultrapassado pelas linhas de pesquisa na Comunicação, mas tem sua relevância para nós, simples mortais, quando revelam interesses da nossa querida mÃdia. Estudei ainda a indústria cultural infantil, que ultrapassa questões ideológicas e alcança até a fisiologia. As meninas de nova geração tem suas menstruacões cada vez mais jovem, acelerando o fim da infância pois não querem mais bonecas ou brinquedos, preferindo celulares e maquiagens. A própria erotização de crianças (lembram das paquitas da Xuxa?), vai sugerindo um desaparecimento da infância.
É uma indústria de culturas e modismos, e claro, ideologias. É nesse momento que surge a necessidade de uma teoria crÃtica, através de debates e pesquisas da Escola da Frankfurt, pois para eles a crÃtica era essencial se distanciando de teses tradicionais. Horkheimer dizia que mesmo que tivessem algumas semelhanças, "há no entanto uma diferença decisiva quando elas tratam da relação de sujeito e objeto". Acrescenta que ao contrário do que afirmam as teorias tradicionais, nas pesquisas criticas o teórico e seu objeto especifico são vistos como formando "uma unidade dinâmica com a classe oprimida", onde interagem forças que estimulam a mudança. Complicou? A teoria crÃtica trata das relações de mercadorias e analisa como acontecem essas trocas ou "artimanhas culturais" onde a ideologia está inserida. Lembramos de Marx, tudo tem seu destino...
As narrativas de mudanças culturais estão implicadas entre essas teorias e a mÃdia é peça intrÃnseca. Já escrevi sobre várias teorias da Comunicação, Sociologia, dos CurrÃculos e filosóficas, e desta vez, vou citar o " Enfoque TrÃplice", propagado por Jhon B. Thompson.
Thompson demonstra as formações das produções e circulações nos meios de comunicação. Primeiro, a produção e difusão das formas simbólicas, depois a construção das mensagens comunicativas e finalmente, a recepção dessas mensagens. Estas três etapas forma o que Thompson denomina de "Enfoque TrÃplice".
São etapas que revelam porque nao somos "donos das nossas palavras". Resumindo: produção, transmissão e recepção. Como a mÃdia constrói a mensagem, transmite e por último como é recebida.
Embora John Thompson se sirva de formas simbólicas, mesmo assim percebe-se que o enfoque triplice possibilita "colocar de um modo novo, problemas metodológicos interessados em procurar analisar a ideologia no contexto de uma cultura cada vez mais mediada pela midia", acrescenta.
"Uma cultura cada vez mais mediada pela mÃdia", em como o receptor vai gerir tais transmissões.
Gostaria de dizer que depende dele (do receptor), mas não, pois se não somos donos nem das nossas palavras...
Em tempos de fake news (que sempre existiram, não é algo novo), a compreensão do papel da mÃdia nas sociedades modernas pede nossas reflexões. Pesquisas.
IsaÃas Caminha já havia percebido o poder de criar e disseminar ideologias e culturas cem anos atrás.
O enfoque de Thompson esclarece de forma didática como funciona a indústria da cultura, que "empurram" ideologias em seus veÃculos de comunicação. Ele sugere meios para entender mecanismos usados pelos meios de comunicação que transformam culturas. Como surgem "mitos". Se eu e você formar uma dupla sertaneja e o Ratinho ou a Globo "apostar" em nosso projeto, em um mês estaremos vendendo milhares de CDs, vÃdeos, etc.
Daà pergunto, quem é Ratinho? Pois é, tem um programa ridÃculo na televisão e pasmem, seu filho (quem é? Daonde surgiu? Quais seus projetos polÃticos?), é governador. Sim, estou falando sério, o ratinho do Ratinho com um currÃculo que ninguém conhece é governador do Paraná. Eis as consequências que John Thompson revela em seu livro "Ideologia e Cultura Moderna". E que Lima Barreto denunciou em sua literatura militante. E que IsaÃas Caminha sentiu na pele trabalhando numa redação de jornal.