Nao sou Narciso para ficar me admirando diante de um espelho.
Aliás, não tenho hábito de ficar me olhando em seus "reflexos sem reflexões" apesar dele ser a primeira coisa que vejo todos os dias.
Todas as manhãs ele está lá.
Me olhando.
Me encarando.
E vou dizer, não sou aquele senhor de 62 anos que está lá "dentro", ora, ora, sou mais jovem...bom eu acho...
Lembrei de Nando Reis e também acho que meu espelho é mentiroso.
Mas ele é resiliente e vem...todos os dias...
Porque ele faz isso?
Vou ter que consultar Freud.
Ou Sêneca.
Ou o melhor de todos, meu amigão Jesus...
Mas como adoro criar teorias vamos em busca delas.
Narciso, cadê você?
Enquanto o bonitão não responde, Sêneca lembra todas as vias possíveis inclusive um terceiro caminho.
Preciso explicações pois o espelho segue lá, me encarando.
Monstros e homens comuns estão lá dentro e não sei se estou no início, meio ou fim de minhas teses, o relevante é seguir como Sêneca diz, quando alguém está no caminho e já está no porto quase se separando da terra firme.
Mesmo porque às vezes o simplório pode ser mais terrível do que certos monstros...
Parece contraditório mas me conforta, ora, o tal espelho me força a dizer agora o oposto do que disse antes.
Se o passado pode ser reconfigurado quem sabe meu espelho não se perca em manipulações históricas.
Entretanto a sociedade do espetáculo me lembra que a imagem representa muito, muito, mas muito...
No início no meio e no fim.
Porém, sabemos que a beleza de Dorian Gray não teve um final feliz, seu espelho tão querido e seu quadro se tornarão amaldiçoados.
As asas da morte assumiram facadas com quebras de retratos e espelhos.
A ilusão de uma eterna juventude não se sustenta nem mesmo em espelhos mentirosos.
Mas nesse entrevero, como diz o gaúcho, tenho uma vantagem e diante imagens retorcidas meu espelho não consegue decifrar meu mundo interno.
Meu âmago está seguro.
Lá ele não enxerga se estou no início, no meio ou no fim.
Imagine se Medusa, aquela inimiga de Perseu estiver me encarando no meu espelho, certamente ficaria imóvel como um um homem de pedra, escutando Rolling Stones...
Talvez o orelhudo Dr. Spock das Jornadas das Estrelas pudesse me "ver" por dentro com suas mãos mágicas, mas meu espelho, ah, ele não.
Minhas mudanças são diárias e jamais meu espelho vai saber que de súbito, me transformei.
Além do mais nossos olhos não são iguais, até quando vemos a mesma coisa ou pessoa.
Prefiro seguir Raul Seixas, eu sou o início o meio e o fim e prefiro "andar de passo leve para não acordar o dia, sou da noite a sua melhor companhia".
E, agora sim, no fim, ó espelho, espelho meu, não estou nem aí para suas opiniões, e vou apenas prosseguir...companheiro...esperando a infinitude existencial prometida por meu grande amigo...Aquele...
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