Estou chegando aos 60 anos de idade, vivendo conforme o tempo e como "Ele" manda. Algumas coisas vão, outras vem, as prioridades mudam e quando olho para o espelho, tudo ok (eu acho né).
Me reconheço.
O jogo está empatado. Perdi elementos produtivos humanos, porém lembro que mesmo na mocidade, passei por fases em que me achava o "cara" como também tive fases adversas com péssimos momentos, me achando o indivíduo mais feio do universo. Natural, faz parte.
Meses atrás encontrei uma mãe de uma amiga que conheço há mais de 40 anos e no diálogo ela disse "coca, quando somos jovens, ficamos imaginando como será daqui 40, 50 anos...é tudo igual".
Evidente que certas afinidades não me pertencem mais e gotas de água que viravam tempestades, retornaram a ser gotículas de água ou partículas de átomos.
E assim vamos bailando, com meus vinhos e meus chops, seguindo conselhos do sábio Baudelaire: "é necessário sempre estar embriagado, tudo está ali! É a única questão para não sentir o fardo do tempo para quebrantar nossos ombros nessa terra. Direis vós se embriagar sem trégua, mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiseres. Mas embriagai-vos".
Sabendo que um bom vinho é ter capacidade de curtir seu sabor e ir além, afinal, Baudelaire também dizia que saber admirar é coisa rara, poucos tem essa virtude. Ali deve haver uma separação da razão humana para leituras sublimes dos astros e seus mistérios.
Admirar, saborear, curtir nossos âmagos seguindo Baudelaire. Ordem é ordem.
Na parte líquida com a moderação de Epicuro e nas teorias seguindo as virtudes platônicas.
Como diz aquele sábio, se as máquinas precisam de óleos, nós, terráqueos, necessitamos de óleos na garganta, levando fé na certeza da justiça como essência humana (ultimamente está dificil), pois Sócrates dizia que com as injustiças as pessoas passam a se odiar. E eu quero amar.
Para se adaptar às (in)justiças, a virtude se transforma em preferência. Como Epicuro ensinava em seu Jardim, a moderação sempre deve estar acompanhada da virtude e da ética, pois segundo o filósofo, não existe felicidade sem justiça, prudência e beleza. E com as mudanças que o tempo traz consigo, com todos os tipos de evoluções, só nos restar nos adaptar.
Até cidades e países passam por labirintos, ontem estavam no auge, e algumas agora, vêem suas economias superadas, onde reis são derrubados e nos piores extremos, decapitados.
Tudo muda. Mesmo nossos lares.
Nando Reis canta, "e eu não encho mais a casa de alegria...os anos passaram enquanto eu dormia", e pior, ele sente que não está se adaptando com seu espelho.
Enquanto isso, eu, por enquanto ainda me reconheço, mesmo não tendo mais a cara que eu tinha, essa cara no espelho, ao contrário do que Nando Reis diz, é sim, minha.
E vejam, até nas piores fases a derrota é útil, pois só com elas vamos lutar por vitórias e para espantar o vazio, a adaptação exige carinho e reconhecimento.
Até nos momentos duvidosos, quando o diálogo está imerso, pois "será que eu falei o que ninguém ouvia, será que escutei o que ninguém dizia", insiste Nando Reis.
E se quando falei não estavam prestando atenção, que falta de respeito e camaradagem, mas ainda assim, escutei o que ninguém dizia, pois sei que às vezes, palavras não ditas gritam mais do que um idiota berrando sem lucidez. É, todos sabem que tem situações onde o silêncio é ensurdecedor. Muitos confundem personalidade com estupidez ao tentar vencer debates aos gritos da ignorância. Já gritei muito na mocidade, hoje procuro silenciar, embora às vezes não dá né pessoal?
Brigar? Calar? Melhor calar pois não concordo com o jargão popular, "quem cala consente". Quando percebemos que é melhor ficar quieto, nosso silêncio grita nas almas opositoras.
São os percalços das nossas jornadas, de nossos êxitos, mas não tem importância, se fazem parte do cotidiano, resta "nós se adaptar".
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