Durante um curso on line sobre a História da Arte, o professor Dante Velloni citou uma frase que chamou minha atenção. Ele questionou: "a arte não mudou, ou os artistas são os mesmos". Uma pesquisa revelou muitas semelhanças em pinturas de mais de 500, mil anos. de
diferença. Ora, você imagina um Picasso copiando alguém? Claro que não, e mesmo que pinturas tenham algo em comum, são épocas distintas, o contexto histórico tem outras realidades. E não podemos dizer que uma obra de 200d.c. tenha o mesmo "significado" de outra, 800 anos depois. Como assimilar coincidências em contextos tão diferentes com civilizações e sociedades tão díspares?
A cronologia supera conceitos.
Um Delacraux, por exemplo, pintou vários quadros com paisagens da África pela qual ele visitou, daquela fase histórica. Da mesma forma, existem pinturas de Cristo franzino, reluzente, "imagens quadradas", cada qual seguindo as tendências do Barroco, Impressionismo, etc
O Cristo gótico, por exemplo, é magrinho, pois na Arte Gótica o corpo não era tão relevante (a prioridade era o conteúdo) e assim cada pintura se orientava conforme suas escolas.
Na pesquisa do professor Dante, outra expressão me surpreendeu ainda mais, enriquecendo o debate: "Fantasias inconscientes". O termo bateu na minha testa, penetrou no meu cérebro e iluminou o breu da minha mente. Nossa, viajei...
Cada artista com suas fantasias escondidas no interior do corpo, ou como gostamos de dizer, aquelas inseridas no âmago do ser.
Evidente que "imaginar" qualquer coisa há 200, 300 anos atrás difere da nossa atualidade. Se para os impressionistas as cores mudavam em 24h, imaginem em 100 anos. Claro que são as mesmas 24h, porém até o aquecimento global pode "originar" tons diferentes.
Se nosso inconsciente é, diríamos, inimaginável, então não há como determinar como o quadro apresentará seu final. Até escrever um texto como esse possui suas "fantasias inconscientes". Seu esboço pode até estar lá, mas veremos seu final somente no...final.
Cada época com suas particulariedades. Delacroux pintou paisagens africanas daquele momento (parece até banal dizer isso né), porque estava lá, além da obra em si.
Da mesma forma, como as obras góticas não tinham preocupação com a estética e se dedicavam mais ao conteúdo (basta ver suas esculturas disformes), as fantasias dançavam soltas não é mesmo?
Na Idade Média com o domínio da Igreja, percebe-se o mesmo fenômeno. Muitas pinturas nas igrejas engajavam a fase histórica.
E assim comprovamos que a cronologia seguiu ditando suas fantasias inconscientes de cada época. Mesmo porque todo artista deve ir onde o povo está e se o momento é das igrejas, bora lá.
E no Renascimento? Uma época esplendorosa com as grandes navegações e descobertas em cada esquina. Os pintores se libertando dos dogmas religiosos forçando novas culturas. O inconsciente deitando e rolando...
A ciência vêm com tudo, o homem renasce, os portos de Gênova e da Espanha abrem o leque insinuando um novo mundo. Que época. Grandes artistas são patrocinados pela elite. Médice dá todo apoio a Michel Ângelo para fantasiar e criar uma Pietã.
Um mundo aberto aguardando por novidades, onde ondas mágicas circulam entre os dedos e mãos de artistas com total liberdade para pôr suas fantasias inconscientes à nosso dispor.
Que expressão, ela me pegou, "Fantasias inconscientes". Sensacional. Poderíamos estender à segmentos e departamentos diversos. Liberar nossas fantasias criativas na vida familiar e profissional. Liberar o inconsciente para diferenciar a mesmice sem medo de ser acusado de plágio. Caso contrário nem novos escritores terão acesso à suas obras pois quem já não leu livros com a mesma temática e filmes com finais quase idênticos. Eu disse quase, e aqui aponto a novidade, pois qualquer detalhe pode reformar conceitos. Como uma vírgula.
Como essa expressão, que me deixou em êxtase e mudou minha forma de analisar pinturas, esculturas, filmes e teatros, tudo devido a um curso que fiz sobre as faces históricas da Arte, e que permite diferenciar obras que inicialmente, parecem ser até cópias.
O "toque" final de todo artista surge, e a diferença destrói semelhancas quando o gênio libera suas fantasias inconscientes.
Essas, essas são realmente facetas capazes de ver o outro, ou a coisa, como o novo do velho...essas, essas...
fantasias...
Ótimo texto. Só nos resta saber o que seria da humanidade, se todos liberassem suas "fantasias inconscientes"...