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Florestas Filosóficas

Atualizado: 19 de jun. de 2023

Baruch de Espinosa(1632-1677), foi um filósofo racional e seguia suas teorias com essências objetivas, porém, complexas, e mesmo abusando dos métodos matemáticos, acompanhou a Revolução Científica de seu tempo.

Sua principal obra "Ética: demonstrando à maneira dos geômetras", revela suas teses seguindo um mundo material, mas não menosprezando questões subjetivas, originando paradoxos.

Espinosa era um fiel racional, como o mestre Descartes, mas relembrando, não ficou restrito como um pensador apenas nessa doutrina, basta ler suas teorias que veremos a filosofia em si, representada em vestígios confiáveis.

Mark Twain disse certa vez que Espinosa tinha ideias como "a vida de qualquer criança bem formada surgindo num momento quando ela sente um desejo de ir cavar uma busca do escondido. Relevante, mas dá para perceber aí um entrevero, como diz o Gaúcho, unindo materialismo com a genuína filosofia.

Tanto é que Espinosa, crendo em Deus, visualiza florestas ou montanhas como algo "superior", além, algo como demonstrações de Deus. E visualizo aí, nesse momento, a atualidade de Espinosa.

Tô viajando? Seguindo conceitos modernos, chego ao consumismo, onde a tal "floresta" servirá por certo tempo, pois a insatisfação do consumidor vai se manifestar. O desespero por algo novo.

A beleza da floresta e toda sua magnitude não vai cobrir a sede consumista do século XXI.

Que confusão não é? Não, vou tentar simplificar mostrando que o homem racional não configura a atual sociedade.

Acho que nessa fase, o homem deveria aprender a amar, "treinar" esse sentimento, amar em sentidos diferentes, curtindo o cotidiano.

Vou dar um exemplo, teve um tempo que várias vezes dormia no sofá, com preguiça de levantar e ir para a cama. Se for uma vez que outra, nenhum problema, mas a situação pode recrudescer se virar mania.

Perde-se o prazer de dormir numa cama com lençóis limpos, e pior, esse horário de ir dormir pode ter consequências depressivas. Percebem, temos que criar a situação e "aprender a amar a dormir", usufruir esse momento.

Com calma, naturalidade, sem pressa e desviando caminhos para felicidades em pequenas coisas. Como Raul Seixas diz numa de suas últimas músicas "se você correu, correu tanto, mas não chegou a lugar nenhum, bem vindo ao século XXI".

Quem entende e vê as florestas como algo superior se integra com mais sabedoria e naturalidade.

O escritor Joan Solé escreveu à respeito de Espinosa: "essa filosofia é atual porque revela uma visão da estrutura da realidade e de natureza humana que pode ser aceita ou negada, nos dias de hoje". A geometria de Espinosa vai colocar uma ordem objetiva, necessária no nosso cotidiano. E àqueles que insistem em dizer que as teses dele estão ultrapassadas, basta observar certas interações com nosso século XXI.

Se nosso objetivo racional, ou mesmo nossa ética, permitir dar um freio no consumo e perceber que ele não traz felicidades, então a religião do bem-estar consumista vai pra escanteio. A harmonia interior do rapaz que correu, correu tanto, não vai chegar a lugar nenhum mesmo. Se a 300 anos atrás, o homem tinha dificuldades para ser feliz com as "árvores" da época, e às lindas florestas, não vai ser com mercadorias novas que o indivíduo irá se satisfazer. O desenvolvimento tecnológico não cobriu a ansiedade, e mais grave, sociedades ricas se chocam com a fome e decepções.

O francês Gilles Lipovestki já revelou a felicidade paradoxal da modernidade, onde temos tudo mas não temos nada.

Se não aprendermos a arte de amar (pessoas e coisas com sua real significância) vamos correr, correr e...não chegar a lugar nenhum...

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