Dizem que sou obcecado pela indústria cultural e de certa forma, não discordo.
Vejo suas artimanhas ideológicas em diversas áreas, não apenas nos meios de comunicação. A manipulação e joguetes imaginários (palavra do momento, da hora, da moda), estão inseridos na sociedade e em qualquer mudança cultural e não há como isolar suas novidades coletivas...e pessoais...
As crises de identidade da pós-modernidade(Stuart Hall) reviram conceitos e maniqueísmos.
O Impressionismo entra nesse "entrevero", afinal Claude Monet e seus companheiros não deixaram de lado certas regras acadêmicas ao pintar paisagens ao ar livre, saindo de seus estúdios?
Monet quebrou tradições e a"indústria" da pintura, inovando e revelando cores e sombras no impressionismo.
Ele renova, cria, inova, enfim, é um rebelde e deseja "almoçar na relva"(1866).
Enquanto isso, na literatura, Lima Barreto em seu conto "O Número da Sepultura" diz que seu personagem sempre foi exemplo de uma peça ajustada na máquina, bem polida e preocupada em seguir regras sociais.
Um perfeito exemplo...de indivíduo sem opiniões. Levantar, trabalhar, dormir, levantar, trabalhar, dormir, obediente, pois tudo segue conforme a classe dominante deseja, isto é, "isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos".
Ora, um cotidiano desses vai levar indivíduos a um zoológico sem graça onde animais presos são mais felizes do que eles próprios.
Retornando ao mestre, a origem do Impressionismo floresce com a obra prima de Monet,"Impressões, O Sol Nascente".
O ano é 1870, estamos no Brasil Colonial, um estado com projetos de investimentos que inclui o extermínio de indígenas, o mesmo no Oeste selvagem nos EUA (sim, aqueles filmes de heróis mocinhos matando índios que víamos na sessão na tarde).
E na França de Monet, a guerra Franco-prussiana abala a região européia. Isso mesmo, tudo no mesmo processo histórico, na mesma época em que Monet revoluciona com suas impressões negando tradições.
Seu quadro "Os Descarregadores de Carvão"(1875) escancara a vida difícil durante a guerra franco-prussiana, a miséria com trabalhadores que lembram os tempos modernos de Charles Chaplin carregando pesos nas costas e nas almas.
Em época tão escura, o humano sugere e exige novidades, esperanças. Como um sol nascante, com seus reflexos nas águas e nas almas, ah, e com resistências à ideologias culturais com certas semelhanças com culturas industrializadas negando imposições na pintura, como a mitologia.
Uma busca sem condicionamento mas forçando clareza em autoconhecimentos.
Um Sol Nascente.
Dostoiévski mostrou caminhos em seus folhetins, dizendo que "será que o folhetim traz apenas uma lista de novidades palpitantes da cidade?".
Parece que podemos, e devemos, enfocar tudo com nossos olhares e sedimentar com nosso próprio pensamento, dizendo novas palavras, ou melhor, novas vertentes, amplia Dostoiévski.
O escritor russo é sempre genial pedindo ao leitor reflexões com direito ao empirismo com sua (nova) palavra.
Sensacional. É isso.
Simples e profundo.
É o que sempre combato, uma luta contra as mídias malditas, contra uma cultura massificada e manipuladora.
Percebem como a indústria cultural tem representatividade em várias esferas?
A Escola de Frankfurt lançou suas teorias na busca de esclarecimentos e aí estão todas as artes, o Impressionismo, a literatura de Machado de Assis e Lima Barreto, o teatro, o cinema, os verbos e versos de Bob Dylan...
Todos corroboram com o Sol Nascente, vibrante, com novas cores e sombras iluminadas, sim, iluminadas.
O Sol Nascente de Monet grita com suas impressões, ele solta sua voz.
A ruptura impressionista expande o deslocamento do pintor de seu ateliê para paisagens ao ar livre desobedecendo regras acadêmicas daquele tempo que lembram resistências à estranhas indústrias culturais, não é mesmo?
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