No texto "Lutar sem Brigar", falei várias vezes em melancolia e alguns seguidores lembraram a proximidade dela com a sensibilidade e o caráter, entrelaçados com o temperamento.
Parece confuso mas veremos que tem tudo a ver. Por isso resolvi seguir o papo e apesar de considerar a sensibilidade um sentimento nobre, ela pode levar também ao sofrimento.
Confesso que já fui mais sensível em minha insustentável leveza do ser.
Mas, (sempre um mas), surgem os Herdeiros de Alexandre para derrubar nossos sabores e acrescentar dissabores. Eles vem com tudo.
Faz algum tempo que estava preparando esse texto, com essa temática, e a hora propícia chegou.
Já falo deles. Dos herdeiros.
Primeiro lembrar que a sensibilidade pode ser "bonita", mas seu lado paradoxal é relevante e significativo. Se é nobre, também é nefasta, porque se realça nossa alma, nos aflige. Ela fortalece nossa existência mas traz infelicidades.
Fortalece porque sua beleza visualiza o além, porém essa mesma beleza cansa o organismo mental.
Talvez seja por isso que leitores percebam um casamento entre a sensibilidade e a melancolia.
Quero lembrar que um dos objetivos do blogueiro é essa troca de mensagens com seus seguidores pois assim, vamos somando conhecimentos e experiências.
Umberto Eco disse certa vez que "nada mais consola o autor de um romance, do que descobrir as leituras nas quais não havia pensado e que são lembrados pelos leitores".
Troco a palavra romance por blog e fico me sentindo correspondido.
Eco ainda completa, "de resto, a grande maioria dos leitores faz-nos descobrir efeitos de sentido nos quais não havíamos lembrado".
São essas palavras que fazem Umberto Eco ser uma das essências nos estudos dos processos da comunicação. A sensibilidade do artista buscando seus elementos humanos ou como diria Milton Nascimento, todo artista tem que ir onde o povo está.
Seria formidável uma sociedade mais sensível em suas várias facções, porém soldados e doentes por poder, afastam essa utopia.
A ganância de Brasília e seus corruptos derrubam nossos sonhos.
Tendo imaginar uma vida sem a classe política, mas não adianta, eles estão lá. Sempre estiveram.
Entre prós e contras, o sensível tem certas vantagens e qualquer monge lembraria que vivem próximos de lampejos de iluminação.
Eles chamam esses momentos de "satori", e que podem servir de armas poderosas. Consta que um monge caminhava com seu aprendiz que desejava saber quando teria seus satori ou maior sabedoria. Seu Zen.
O mestre parou e perguntou ao aprendiz se estava escutando o córrego, que estava distante. O rapaz disse que não escutava nada, e o monge sorrindo completou, "quando ouvir o córrego, terá seu satori.
Sensibilidade. Sabedoria.
Mas temos que ser fortes, carrancudos. Apanhar para aprender, que bobagem. Gerações anteriores à nossa sofreu mais ainda. Tinha que "ser homem". Lembro de uma vez quando era criança e num domingo um padre (acho que era da Idade Média) foi almoçar na minha casa e num determinado momento disse para meu pai que tinha que ser "firme" com seus filhos. Ah tá, não tem nem filhos e vem dar conselhos.
Minha relação com minha filha nunca teve essa "autoridade", burra e nefasta. E somos grandes amigos.
Novamente lembro da relevância da troca de ideias com leitores, nossas críticas corroboram com nossas produções de conhecimentos. Todo ser pode, e deve, revelar suas ideologias, desde que respeitando o próximo. Respeitando, não impondo, certo padre?
Nao significa ter que sofrer para aprender, apanhar para aprender. O rei Felipe, pai do Imperador Alexandre fez ele passar sua infância com sofrimentos que não havia necessidade. Mandou Alexandre para o interior para conviver com uma família sem recursos para ficar "forte". Depois com toda sua "força", conquistou seu imenso Império e, e...morreu alcoólatra. Não quero essa herança. Pelo contrário, vou lutar sem brigar para nunca ser herdeiro de Alexandre.
Valdocir, É impressionante como sua escrita me instiga a pensar... Acredito que todos nós temos algo de sensível e alguns são até mesmo sensíveis por natureza. Toda entrega é repleta de sensibilidade porque nos aguça a percepção e os sentidos. A pergunta a se fazer é como se entregar completamente a algo, de forma equilibrada, sem se sentir o sensível vitimado e incompreendido. A sensibilidade pode ser altamente genial e demonstrada por aqueles que ousam se entregar à arte de ser.