"Se os generais loucos mateassem ao redor do fogo, deixando o ódio para trás, antes de lavar a erva, o mundo estaria em paz". Em tempos de guerra, os verbos do cantor gaúcho João Chagas Leite rasgam nossos ouvidos. E para quem não entende o linguajar gaúcho, "mateassem" é tomar chimarrão e lavar a erva significa que depois de servir várias vezes a cuia, a erva já está perdendo seu sabor.
Enquanto isso, russos, ucranianos e norte-americanos não conseguem entender uma das máximas de Augusto Cury: "a maior vingança contra o inimigo é perdoá-lo".
Mas, porque os homens vão às guerras? Terras, ambições, proteção...
Desde a antiguidade o sonho da paz está distante e como seria bom viver num lugar sem guerras, mas onde fica essa utopia?
Talvez dentro do coração, como canta Gilberto Gil e até mesmo na "ideologia alemã" a utopia aparece como um movimento que circula a ordem estabelecida. Pois agora que perdemos fragmentos da crença no humano, independente de razões políticas, geográficas e ideológicas, não vou analisar as carnificinas com frases triviais.
Vou buscar novas variantes para entender porque os homens matam uns aos outros. Porque esquecem suas humanidades menosprezando nosso planeta Terra. Incrível, que paradoxo, por ganância de mais terras, pisam nela e a maltratam com suas armas destruidoras.
Nossa Terra, tão glorificada por poetas como Paulo Juner (PJ), quando escreve seus haicais: "Terra, aquarela, pintam-se os céus, ao redor dela".
Mas, afinal, porque surgem os combates mortais? Por justiça? Só se for para os excluídos. Aqueles que escutam vozes tristes e amarguradas de um passado sofrido e que teriam direitos às suas reivindicações.
Como são excluídos da globalização, da OTAN, sonham com um mundo mais justo. E humano.
Na guerra da Ucrânia, todos percebem que o debate está politizado, uns demonizam a agressão, outros lembram as invasões dos EUA no Iraque, Afeganistão, enfim, a discussão lembra a Guerra Fria.
Como já apareceram teses de vários tipos, proponho uma visão alternativa.
Porque, onde, em que momento se decide pela agressão? Bertrand Russell situa conceitos inusitados e revela o impulso no debate.
O impulso.
Ele diz que o "impulso cego é a fonte da guerra", porém, alerta que esse mesmo impulso serve como fonte da ciência e do amor.
Diríamos que todo e qualquer impulso origina uma cadeia de crenças, para o bem, mas desgraçadamente para o mal.
Impulsos do caos e da tragédia. Impulsos da destruição.
Impulsos de Guerra.
Curioso, não é mesmo? Ora, o impulso supera o desejo e descontrola o normal tornando-se, às vezes, oposição de desejos. O impulso supera o desejo, e muitas vezes trai o próprio querer.
Cito Rusell, "se as crianças correm e gritam, não é pelo bem que com isso esperam realizar, mas por causa de um impulso direto de correr e gritar", para clarear sintomas do impulso.
Ah, se os loucos generais da guerra controlassem seus impulsos, talvez o mundo estaria em paz.
Surreal, dizer que guerras surgem por impulsos. Será que não estou exagerando?
Talvez (quantas vezes já disse talvez), pois não consigo definir o que é a guerra.
Sei, com certeza, que é um absurdo, foge da compreensão. Foge do humano.
Talvez (mas de novo), tenha a ver com impulsos mesmo. Certa vez, jogando futebol, um colega, psiquiatra, descreveu uma teoria que nunca mais esqueci.
Ele pediu para observar o comportamento dos jogadores, o chato era chato, o simpático era mesmo simpático no dia a dia, o egoísta se comportava no jogo como se fosse o melhor do mundo, não passava a bola para ninguém, enfim, a relação comprovava quem era quem.
A tese do doutor era que no calor do jogo, o indivíduo revela seu caráter, se expõe pelo impulso do momento. O impulso dá as cartas sem aviso e atropela o controle. E para o hábil falso, entrega seu caráter.
Interessante, faça o teste com seus amigos na próxima partida, você vai confirmar a relevância do impulso.
Que pode originar até guerras.
Talvez...
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