Impérios Teocráticos

Já comentei aqui que o livro "O Processo Civilizatório" de Darcy Ribeiro está há 40anos em minha cabeceira, sempre renovando conhecimentos.

Sempre trazendo novas releituras de conceitos como revoluções tecnológicas e culturais, aldeias agrícolas indiferenciadas, processos sociais e culturais, acelerações evolutivas, retrocessos que marcam avanços e recuos de nossas sociedades.

As revoluções que deveriam facilitar nossas rotinas com seus processos renovados, sofrem abalos culturais onde o vigilante opressor está atento trazendo retrocessos inimagináveis com suas ambições ultrapassando realidades.

Como explicar que o Império Romano construiu seus exuberantes castelo e 1500 anos depois, pessoas viviam em cabanas típicas de sociedades arcaicas no Brasil Colonial ou no Velho Oeste.

E os milhões de miseráveis na Revolução Industrial? E a fome e pestes?

As "Hordas Pastoris Nômades"que Ribeiro descreve há dez mil anos passados ressurgem, pasmem, com avanços e retrocessos, quase da mesma maneira como na rotina da Sibéria há centenas de anos.

Algo ou alguém, ou grupos, trancam o que era para "iluminar". E se antigos prisioneiros eram sacrificados, na Pós-modernidade seguem quase como escravos. Ribeiro descreve a Revolução Urbana: "a presença de escravos tomados a outros povos e despersonalizados para serem possuídos como instrumentos de produção afeta as sociedades e deixam de ser igualitárias".

E Ribeiro narra uma história onde surgem desigualdades em seus desenvolvimentos nas formações dos povos (sul)americanos. Essa é uma das partes que considero mais, diríamos, originais de Darcy Ribeiro, onde observamos que sociedades avançadas ou atrasadas não seguem um padrão em suas etapas sucessivas da evolução humana.

A complexidade acompanhada de processos de dominação trazem repressões em fases que na teoria seriam de desenvolvimento.

Complicou? Ora, o feudalismo não conceituado como uma evolução entre uma escravidão severa e o incremento do capitalismo, gerou retrocessos em vários níveis. Ainda complicado? Estamos no ano de 2022 e agora, "meninos vestem azul e meninas rosa" e convivemos com hospitais com falta de tubos de oxigênio.

Deu para entender né...

Porém, a sede do poder emana na economia, política e nas igrejas.

Aliás, inclusive nas igrejas, locais que deveriam ter como essência, orações...

Como os Bórgias mostraram "Deus acima de todos" já era lema para bolsos recheados. No passado, como no presente, os estratos sociais precisavam ser explicados por suas diferenças a "fim de torná -las entidades políticas unificadas e operativas". Era necessário revitalizar as velhas tradições religiosas para resignar o pobre, como vemos na atualidade.

Ah, os Impérios Teocráticos que Ribeiro descreveu, agora são formados por Waldomiros e Malafaias.

E por governos que não cansam de repetir que Deus está acima de todos.

A arte denuncia tais discrepâncias e é pena que poucos conhecem a beleza de quadros das pinturas medievais italianas como do pintor Giotto Di Bondone (1266/1337). Seus quadros como "Juízo Final", entre outros, são de uma beleza indescritível, até para quem não domina essa arte.

La está a alma espiritual com quadros revelando sua época, apesar dos pesares.

Giotto foi amigo de Dante Alighieri, escritor que já na primeira estrofe da Divina Comédia descrevia:"da nossa vida, em meio da jornada, achei-me numa selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada". Se no século XIII, Dante com apenas 35 anos de idade anunciava tempos difíceis, imagine as selvas tenebrosas das poderosas instituições religiosas da atualidade, verdadeiros impérios comandados por Waldomiros, Malafaias, Jovem Pan...