Essa resenha também foi escrita quase vinte anos atrás, numa disciplina do mestrado de Jornalismo na UFRGS e fala sobre o desaparecimento da infância, uma das consequências dessa indústria.
Será que o lugar da criança na educação na sociedade brasileira sempre teve a mesma relevância?
No seu livro "Ideologia e Cultura Moderna", John Thompson diz que "Se os primeiro teóricos da Escola de Frankfurt acentuaram a importância do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e repensarem a natureza do papel da ideologia em relação a esse desenvolvimento" fica evidente que devemos reavaliar suas ações na atualidade. Adorno e Horkheimer falavam que quanto mais firmes eram as posições da indústria cultural, nenhuma barreira iria se elevar contra esses progressos.
Ora, se percebemos essa teia de ligações, o público infantil então, é atingido sem piedade. O professor dessa disciplina, Sérgio Caparelli, citou o exemplo das mães que fizeram uma fila de cinco mil pessoas na porta do SBT "levando suas filhinhas para dançar no concurso do Tchan, uma fila muito maior do que na frente das escolas à espera de vagas".
Partindo desse exemplo, fica impossível negar a presença dominadora dos valores culturais dessa indústria. O surgimento da industrialização moderna resultou em novas padronizações de comportamentos e hábitos. Atrofiaram nossas capacidades de pensar e agir de maneira crítica. Como afirmou a psicanalista Maria Rita Kehl durante a jornada de debates "Mídia e Imaginário" na UFRGS em 2000, a linguagem e o discurso da TV são imagens que "estancam o pensamento, uma vez que o diálogo só reforça a imagem, estamos sempre ligados em significados e signos".
Aqui o desaparecimento da infância recrudesce. Esses processos são transmitidos para a sociedade infantil acelerando o fim dessa fase precocemente. Os produtos dessa indústria cultural infantil não tem preocupação nem com suas estéticas, nenhuma pretensão de assegurar seus valores como arte e agora são construções simbólicas que seguem fórmulas pré-estabelecidas. E, devemos lembrar que nossa atual concepção de infância vem desde 1762 com a obra "Emílio" de Jean-Jacques Rousseau.
Uma das novidades em Rousseau revela que deve surgir um isolamento educacional infantil separando o mundo infantil do adulto. Muito diferente da idade Média quando crianças e adultos viviam o mesmo ambiente. Neil Postman cita em "O Desaparecimento da Infância "que os gregos não se preocupavam muito com as faixas etárias infantis, os espartanos matriculavam meninos de sete anos em escolas onde faziam exercícios violentos e os romanos que ainda desenvolveram os métodos gregos".
Com Rousseau surge o mundo infantil que conhecemos na atualidade. Ele inaugura o mundo da criança, uma inocência que leve esperança ao mundo adulto, com sinceridade e autencidade. Valor e significado para essa fase humana para não acelerar o processo do fim da infância. O psicanalista Contardo Calligaris afirmou certa vez que "dão roupas às crianças como se fossem adultos em miniatura". Esta é infelizmente, uma das premissas da famigerada indústria cultural infantil.
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