E Glauco disse a Sócrates, "sem dúvida, a vida do injusto é melhor do que a do justo". Incrível não é mesmo, pois num plebiscito o justo venceria com larga vantagem. Porém, basta ver nossa política, Geddel, rachadinhas, caixas 2 e por aí vai os desmandos, onde os injustos sempre curtem benefícios em abundância.
Quem caminha em passos retos fica observando as injustiças minando seus cotidianos e, pior, ser humilhado pelos injustos, pois em sua vida honesta, o injustiçado se vê mergulhado em experiências amargas e ainda é ridicularizado pelos oportunistas. Fica a questão, quem é mais feliz, o justo ou o injusto?
Onde está a justiça quando empresários arrocham os pobres trabalhadores em suas ganâncias desenfreadas? Sempre reclamando dos direitos "abusivos" da classe trabalhadora. Mesmo assim, as injustiças rolam causando misérias ao colonizado humilhado diante de sua situação precária. Até para aqueles que perderam o medo da chuva e que vêem as pedras rolando no ar...
Na República, Platão já dizia que os grupos "vencedores", ao se estabelecerem no poder, ditam suas leis, igual à nossos governantes do século XXI. E se a vida do injusto é melhor, como fica a afirmação de que o justo, não querendo superar ao outro justo, apenas aos infratores injustos, deseja assimilar causas melhores do que esses nefastos? A peleia é grande e a virtude desaparece em todas as situações.
Tem ainda aqueles que garantem viver corretamente e que nunca foram corruptos. Ah é? Platão relata no conto o "Anel de Giges", que certo dia, Giges encontrou um anel que ao girar, a pessoa que está usando fica invisível. Agora, pode fazer o que quiser, seduzir mulheres, roubar sem ser visto, tudo está em suas mãos. Ser um Deus. Imaginem um justo e um injusto com um anel desses em seu poder, os dois cometendo atrocidades...o justo não teria forças para resistir...
Complicado. Nesse momento pode surgir outro fenômeno, o justo que vai agir como os injustos, vai querer se "parecer" como uma pessoa correta. Sabe aquele que chega da missa e bate na mulher, briga com os vizinhos e os filhos?
A tentação do anel é feroz, ou vai dizer que você não iria...deixa para lá...
Não conseguimos definir o limite do justo, "parecendo" ou não. Giges nos mostra como somos corruptos, lembra aquele dito popular, todo homem tem seu preço. Ou vai dizer, que você...com aquele anel...
Desnuda também mitos de que o homem justo pode ser mais feliz. Será?
Evidente que devemos seguir passos corretos, mas sabe como é né, ficar invisível, poder ver sem ser visto, enfim, justiças e injustiças estão entrelaçadas.
Fazem parte das horas, incendeiam poderes e como na "República", o tempo passa e caminhamos todos juntos, não esquecendo que a justiça nada mais é do que o interesse do mais forte.
Sentimos no dia a dia. Cacá Diegues no seu filme "A Grande Cidade" revela homens que são atirados para os lados vivenciando injustiças 24h. Vale tudo e acontece de tudo.
E contam que numa determinada cidade um homem poderoso comandava sua comunidade como um verdadeiro xerife do velho Oeste.
Um dia, Alul foi numa loja e houve um desentendimento. Como todas as lojas eram do poderoso, logo toda cidade condenou Alul. Indignado, Alul levou as discussões para os tribunais internacionais. O "xerife" chamado Orom concordou e Alul disse que se ele fosse culpado, ficaria 30 anos preso, porém se a justiça internacional confirmasse os abusos e corrupções, Orom e seus seguidores pagariam o mesmo preço. O que será que aconteceu com as "convicções" de Orom e seu povo?
E ainda existem as hipocrisias, como no exemplo do cidadão de bem que bate na mulher...
O Novo Testamento garante que os bem-aventurados tem sede de justiça, mas muitos ficam apenas "se parecendo", pois seus âmagos revelam o pior. O filósofo Pascal tem uma frase que gosto muito, ele diz que a justiça não funciona sem a força, e, por outro lado, a força sem justiça é tirânica. Pois é, a justiça necessitar da força já traz elementos injustos não é mesmo?
Ainda assim, prioirizo o justo, tenho exemplos pessoais, quando fiz o correto, as conseqüências positivas vieram nas esquinas pelas quais eu passei, e quando quis dar uma de espertinho, além da consciência pesada, A cobrança teve juros altos.
Mas sabem como é né...ficar invisível...
Excelente texto. Nietzsche dizia que "para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder" e eu concordo com isso, na medida em que todos necessitamos ser reconhecidos, ainda que seja com um simples olhar de agradecimento. Quanto à culpa, acho que a medida é individual, vai depender de como você construiu o seu caráter durante sua caminhada. Não acha?