Gal Costa alertava nos anos 70 que não podemos temer a morte e quem consegue viver sem essa agonia pode ser considerado um homem de sorte.
E nessa temática, Ingmar Bergman é especialista. Suas máximas no filme "Sétimo Selo" desnudam nossas existências.
O jogo de xadrez de Antonius Block com a morte revela nossa pequinês numa disputa onde nosso personagem não tem nenhuma chance pois a morte um dia chegará.
Não tem jeito. Gosto daquele filósofo que disse que se a morte é o fim então não tem o porquê de temé-la pois se for assim, ela não existe.
A cena final do filme do cineasta sueco é de arrepiar, a morte vai carregando sua alimentação numa dança da morte com seis pessoas enfileiradas de mãos dadas com ela(a morte) num balé funesto. Uma procissão macabra que por outro lado pode significar uma dança da vida, afinal só existe a morte porque vivemos, não é mesmo?
Caminhos desiguais e imaginados pela corrente do American way of Life...
Eis o existencialismo de Bergman revelando as complexas relações humanas.
Na primeira cena de "Morangos Silvestres", um idoso solitário de 87 anos diz que prefere ficar sozinho porque "nossa relação com as pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Foi isso que me afastou, por vontade própria, de toda minha vida social".
As difíceis relações escancaradas nos diálogos de Bergman surgem no velho personagem que não suportava mais discussões inexatas.
Bergman revela ao mesmo tempo a essência da amizade para o bem viver embora possamos concordar que se as vezes nosso desejo é chutar o balde devido à pessoas idiotas, por certo em inúmeras ocasiões os inconvenientes somos nós. O inoportuno pode ser eu ou você, estamos inseridos nos jogos de linguagem de Wittgeinstein.
Mas, seguimos com o idoso silvestre.
Viajando com sua nora ele dá carona para três jovens e os diálogos reverenciam passado, presente e futuro.
Lembranças e esperanças circulam no interior do carro. De repente o velho, olhando direto para a câmera diz"onde está o amigo que procuro em toda parte? O amanhecer é a hora da solidão e do carinho, quando o dia se vai, ainda não o encontrei. Um fogo incendeia meu coração e sinto sua presença...".
Isso é cinema.
A sétima arte.
Ou, a primeira...
Quantas vezes procuramos o amigo, quantas vezes queremos soltar nossa voz para um amigo.
Gonzaguinha tinha razão "viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e ser um eterno aprendiz".
Adoro esse "eterno aprendiz", ele insinua rios que ainda não vi, porém quero distância do rio que Dostoiévski via com tristeza em sua prisão na Sibéria. Um lindo rio com uma paisagem branquinha da neve com um sol deslumbrante no fundo, porém todos que ali estavam desejavam estar a 5000km dali...
Quero viver a vida para depois morrer a morte. Jorge Luis Borges disse que todo homem deveria propor a tarefa de desenhar o mundo sem esquecer o velho. Tudo está unido.
Visitar o ancião pode ser uma boa idéia, quem sabe uma velha palavra possa orientar um novo conceito?
Bergman garante tais interações.
Belchior também, ora, se ano passado eu morri nesse ano eu não morro.
E mesmo que o emplastro de Brás Cubas fosse para amenizar a melancolia da humanidade, como seria bom não temer o que vem depois.
Não vou esquecer que a tropicália dizia isso. A voz de Gal Costa não morreu.
Sim, sei, as danças podem e são antagônicas, porém...complementares.
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