Por que o Brasil não estuda sistematicamente a América Latina?
E com o atual (des)governo sucateando universidades e retirando verbas da Educação, a situação recrudesce.
Interessante é que 99% dos países de todo mundo estudam às Américas, enquanto no Brasil a resistência conservadora inibe a pesquisa. Na UFSC, o IELA (Instituto de Estudos Latino Americanos), há 16 anos realiza cursos, palestras e seminários com a temática latina.
O professor Nildo Domingos Ourives comanda o Instituto e vocês podem ter acesso a vários conteúdos consultando o site. Numa dessas salas, o professor propôs a tal pergunta. Ao mesmo tempo já revelava caminhos interessantes, como o eurocentrismo.
A mania de superioridade do europeu e do norte-americano que engole o inocente, que segue interesses do neoliberalismo e do velho, mas atual, imperialismo.
O Instituto reforça a necessidade de estudos de escritores latinos, aqueles que escrevem para latinos, como Eric Willians, Enrique Dusserl, entre outros. Dusserl, por exemplo segue uma linha de uma filosofia da libertação. Num de seus livros, ele questiona, qual a origem de nossa cultura ocidental?
Logo surge a tese da filosofia grega, mas daonde vem a origem da filosofia grega? dos egípcios, que por sua vez tem origem da, pasmem, África negra, isso mesmo.
Outro problema enfrentado pelo interessado leitor latino, é nosso próprio ensino, um acadecismo viciado nos mesmos autores. Evidente que não menosprezo grandes autores, gênios da literatura, mas para "ler" nossa América Latina, temos muitos autores desconhecidos e bloqueados, esperando para participar do debate.
Autores como Eric Willians que escreveu "Capitalismo e Escravidão" onde desnuda a escravidão, temática que virou moda. Para o professor Nildo, trata-se de leitura obrigatória. Ainda não tive acesso à obra, difícil de encontrar, mas assim que tiver o livro nas mãos, prometo escrever suas teses aqui no blog. Porém, só com citações do mestre, me apaixonei pelas teorias do escritor argentino radicado no México. Eduardo Galeano, Garcia Marques e Eric Willians podem ser o pontapé inicial para o "vivente" ler sobre nossa América de sangue e suor. Ler e entender a nossa América, pois soy latino. E bolivariano.
Não podemos esquecer do mestre Darcy Ribeiro com seus processos civilizatórios e uma narrativa histórica com outros olhares do Brasil.
Eric Willians (1911/1981) que escreveu não só sobre a América Latina, (possui também várias obras sobre escravidão), disse certa vez que "não há nenhum tijolo de Manchester, cidade industrial britânica, que não tenha sangue dos escravos africanos". Por outro lado, a escravidão no novo mundo foi vermelha, branca, preta e amarela, incluindo católicos, protestantes e pagãos. Desde que o ouro chegasse aos queridos reis e rainhas da Europa, tudo certo...
Os mesmos reis com seus casamentos reais que a Globo mostra e que o povo acha "lindo".
Que a escravidão contemporânea se alimenta no capitalismo todos sabem (embora milhões negam), pois desde a chegada dos "conquistadores", sua
expansão foi patrocinada pelos reinados. Em 1492, Colombo desembarcava com as caravelas Pinta e Nina e o navio Santa Maria enquanto, na mesma época, Hernan Cortez massacrava a nação indígena. Os astecas são dizimados através das armas e micróbios (sarampo, tifo, etc), morrendo 70 milhões de índios em 100 anos.
Isso aprendemos nas escolas, mas quero ver a história com outros olhos. Eduardo Galeano com suas veias abertas foi best seller. E não podemos esquecer do nosso genial Darcy Ribeiro. Mas quero mais, quero "ler" a América Latina de sangue, suor e batalhas com a busca de novos autores. Escritores que se não me fizeram cantador, pelo menos, um ávido leitor. Daí retorno à questão, por que nossas escolas e universidades não se aprofundam em estudos latino-americanos?
Há quem interessa esse menosprezo? Porque o colonialismo é pouco debatido? Por isso fico indignado quando um genocida menospreza Evo Morales, qu sofreu um golpe na Bolívia. Porém lá, o país já está normalizado e no último mês de Agosto, a golpista que está presa tentou o suicídio.
Enquanto isso, aqui no Brasil o genocida faz continência à bandeira dos Estados Unidos. Não me serve.
A filósofa Márcia Tiburi desde 2016 faz conferências em universidades francesas sobre filosofias latinas e apresenta trabalhos na Europa e nos EUA justamente nessa temática enquanto no Brasil, nada. Porém, soy latino, sou bolivariano, luto por minhas raízes e sigo as propostas do professor Nildo que vai desligando as teorias da modernização que vem dos imperialistas. Essas teses relativizam nossa originalidade reforçando modismos europeus. Para combater esse complexo de vira-lata, torna-se obrigatório a leitura desses autores latinos como is ja citados Eric Willians, Galeano, Bolivar Ectheverría entre outros.
E como já disse, se atualmente virou moda escrever sobre escravidão, o professor Nildo sugere "Capitalismo e Escravidão".
Por enquanto vamos de Etheverría, com um existencialismo à lá Sartre e Heidegger com perspectivas latinas e críticas, que vai da Escola de Frankfurt ao Marxismo ortodoxo. Com participações em dezenas de congressos e vários livros, Etheverría segue as teorias de Walter Benjamim. E aqui comprovamos os bloqueios à literatura Latina pois Etheverría não tem nenhum livro traduzido para o português. Porque?
Ele relaciona a Revolução Industrial e suas conseqüências desde o século XVII, e ainda mais, do século XVI com os genocídios das civilizações e povos da América.
Etheverría enumera a arrogância, a epistemologia e um certo bloqueio na criatividade do indivíduo para que sigam o caminho normal do capitalismo mundial. Diante da arrogância que leva à extremos, a natureza perde espaço, "é o progresso chegando lá" (Hermes Aquino), que no final da ópera traz desencantos e a morte de Deus.
É também, o capitalismo mercantil impondo seus valores. Etheverría relembra, porém, as contradições marxistas entre valor de uso com o real valor. Tais violências culturais estão embutidas no cotidiano, com repressões culturais que achatam o já sofrido latino-americano sem parentes importantes e vindo do interior. Lembramos de Marx Weber não é mesmo? O espírito do capitalismo onde até a religião está integrada na reprodução do capital, desde os Jesuítas e as Companhias de Jesus na América do Sul. É companheiros, o lema "Deus está acima de todos", (que não tem nenhuma relação com o Altíssimo), é slogan antigo.
Vamos percebendo daonde vem os desinteresses das pesquisas latinas...
Enquanto isso, estou sentado num bar com amigos, quando na televisão aparece uma foto do Lula com Evo Morales e um colega diz "olha só esses ladrões..." sem base e nenhum argumento.
Acho que preferia ver uma foto do caçador de marajás com Pinochet ou do "mito" fazendo continência à bandeira norte-americana.
Afinal, como diz Onyx Lorenzoni, aquele do caixa 2, e que depois pede desculpas, e ainda apresenta documentos falsos na CPI, eles são do "Bem"...
Excelente sugestão de autores e de temas. Sempre me indignou não sabermos quase nada sobre os nossos vizinhos.