São Paulo disse que devemos nos espelhar no cara perfeito, Cristo, pois somente assim podemos elevar nossas virtudes. E o temperamento está nesse intermeio.
Fica fácil justificar nossos devaneios culpando o temperamento. Eu sou assim, ela é daquela jeito. Ah tá, justificado.
Então, resta educar nossos temperamentos, ora.
Hipócrates a 400ac falou que o temperamento teria quatro elementos, e que um deles seria o temperamento "melancólico". Não se trata daquela melancolia associada à tristeza, mas no sentido de, vamos dizer, não passar por cima dos outros. "Melancólico" ligado a um sentimento de ruminar, porém aqui surge outro problema. Um ruminar positivo, caso contrário vira melancolia mesmo.
Vou inserir algo que sempre me incomodou nessas questões. São nos momentos quando afirmam que pessoas de personalidades fortes são aquelas que geralmente "gritam mais alto".
Nesse quesito, acho que estão confundindo estupidez com personalidade. Ainda assim, lembro que não podemos, ou não devemos, ficar sentados ouvindo grosserias.
Sem vigor. Não. Mas com outra atitude. O sábio chinês Nabeshima Naoshige (1538/1618), já dizia naquela distante época que "se a gente se lança sem vigor, sete entre dez ações, não vão dar certo". Simplesmente porque tomar decisões num estado de agitação, além de ser difícil, geralmente tem péssimas consequências. É o que dizemos quando alguém está nervoso, que deve evitar nesses momentos tomar qualquer atitude.
Afinal, o que faço? Nabeshima dá a letra, vigor com sabedoria. E aguentar opositores nos momentos tensos. Até naqueles momentos que queremos mandar alguém a....(eu faço isso, tu faz isso, eles fazem), mas é justamente aqui que entra o temperamento melancólico. Essa é a proposta, lutar sem brigar.
Acho que a reflexão é apropriada em tempos de ódio disseminado, principalmente em debates políticos, e confesso, sou daqueles que, mesmo me policiando, baixo o nível algumas vezes. É que os bolsominios, também, são, são...deixa pra lá.
Resta nos policiar, mas não estou me referindo à instituição, mas do "verbo" policiar. O sociólogo Gabriel Cohn chamava esse processo de fantasias flutuantes, essas interações com nosso cotidiano. Conversamos, discutimos, trabalhamos, é a vida pós-moderna com seus percalços. O cotidiano é isso. O hoje é isso. Willia Oliveira em seu poema "Hoje", diz que deseja o solado do vento, numa noite passiva, com aventuras e punhais de vida seduzindo a rua.
Que beleza. A aventura passiva da noite (e eu que sempre procurei o lado ativo da noite), com seduções das ruas, dos bairros, os caminhos da noite, e do dia, e quem sabe de lugares onde possamos lutar, sem brigar.
Noites passivas? Sim, pode ser, mas ativas com punhais da vida.
Sao nessas situações que entram novas idéias, preferências, escolhas, onde o caráter se abraça com nosso temperamento, alguns "melancólicos".
Não temos como evitar situações irracionais com eventuais descontrole, pois as relações humanas só não estão em movimento quando dormimos.
E aí ainda existem os sonhos.
Heráclito disse certa vez que não devemos agir e falar como se estivéssemos dormindo. Isso pode significar que nossos esforços acompanham nossa autoconsciência. Dormindo ou acordado. Sejamos então racionais, sempre lembrando como nossos dias seriam diferentes, mais agradáveis com atitudes benevolentes.
É uma luta, mas façamos o possivel para que nosso cotidiano seja...sem brigas.
Não cansamos de afirmar que as conquistas científicas de nossa civilização e suas tecnologias são admiráveis. Também não duvidamos que nossa mente é indescritível, não sabemos até onde nossa inteligência vai nos levar. E mesmo que usamos "apenas dez por cento de nossa cabeça animal", como dizia Raul Seixas, ainda temos horizontes infindáveis pela frente. O problema é a Era dos Extremos de Eric Hobsbawm, pois se temos grandes avanços, os retrocessos também são muito significativos. Basta ver nosso país hoje. Basta assistir noticiários para ver os loucos em ação.
Seguimos mesmo assim, lutando, sempre, sem brigas...
Que honra! Muito feliz pela citação! Obrigada. Lindo texto, obra de mestre! Parabéns!