Essa é mais uma resenha de meus estudos sobre a Indústria cultural, realizada na UFRGS, na década de 2000.
A escritora americana Amélia Simpson faz uma relação, da colaboração, entre indústria cultural com a Xuxamania, através de análises deste programa e do filme "Bye Bye Brasil", de Carlos Diegues.
O filme relata uma caravana de apenas 3 pessoas, que com suas mágicas e danças, cruzam o sertão nordestino,em direção a floresta amazônica num velho caminhão.
Os problemas da caravana recrudescem, quando enfrentam o progresso e expansão das televisões pelo interior brasileiro. A presença da TV retira o interesse dessas caravanas, que ainda circulam Brasil afora. Além disso, a Xuxamania está presente nos quatro cantos do imenso país.
Amélia desnuda um país paradoxal, que ainda conta com essas caravanas típicas de países de terceiro mundo, mas que também apresenta uma mídia desenvolvida.
Ela destaca que o Brasil é o pais que mais assiste televisão entre todos os subdesenvolvidos. É uma grande massa de indivíduos. E deflagra as contradições de um país assolado pela indústria cultural, neste caso, infantil, que cria mitos semelhantes à Branca de Neve e a Bela Adormecida. Também relaciona essa indústria com a Revolução Cultural pois "O gênero e raças brasileiras repetem fenômenos do mas média americanos, ao produzir seus mitos locais".
Estudamos em "As origens do Pos-modernismo" de Perry Anderson, que o avanço das tecnologias favorecem que a "capacidade da televisão de exigir a atenção de seu público é incomensuravelmente (ó palavrinha), maior porque não se trata meramente de audiência, pois o olho é atingido antes de chegar aos ouvidos".
Esquemas amplamente explorados pelo marketing da indústria infantil, assim como as demais indústrias de entretenimento.
Amélia acrescenta que num país que viu "nascer a bossa nova e o tropicalismo, é um choque ver que hoje, um dos maiores sucessos vem de uma cantora que não é cantora e mesmo assumindo que não sabe cantar, vende milhoes".
Ou um estado, como a Bahia, que viu nascer Gilberto Gil e Caetano Veloso e que agora idolatra Carla Perez ou Só Pra Contrariar. Só pra contrariar mesmo.
A sexualidade fica por conta do comentário do psicanalista Contardo Calligaris ao dizer que se o programa é dirigido ao público infantil, a erotização das paquitas "traz" muitos adultos ao ibope do programa. Quanto aos quadros do programa, todos são nacionais,mas raramente com músicas que tenham temáticas relacionadas ao terceiro mundo. Sucessos como "Trem da Alegria", por exemplo, faz referências às Tartarugas Ninjas. Lembra o velho imperialismo cultural. O programa reflete ideologias que "modificam a representação imaginária da nação ", acrescenta Amélia Simpson. A passagem de um produto cultural (nesse caso, a própria pessoa), ultrapassa sua categoria, sua imagem como mito supera conceitos subdesenvolvidos.
Vale tudo na publicidade, no marketing, como Marx dizia, "nada escapa dos efeitos corrosivos do capitalismo". O mundo da mass mídia permite que a vida glamorosa tenha eticas próprias. As implicações do "Xou" estão acima de valores das classes inferiores e mesmo da classe média, que aplaude o imperialismo cultural. Xuxa imitando personagens americanos vale mais do que o Saci Pererê.
E, na luta do bem contra o mal estamos salvos com o filme "Super Xuxa contra o Baixo Astral"(1988).
É, essa resenha revela doutrinas utilizadas pela poderosa mídia. Mas estamos progredindo, basta ver o presidente do país que essa mídia produziu em 2018.
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