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Matas Virgens

Atualizado: 30 de out. de 2021

Quando falamos em Raul Seixas, é obrigação citar Gitã, Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás e falar da Sociedade Alternativa, além de outros clássicos do maluco beleza. Todo mundo sabe que o repertório dele é complexo, muito complexo. Seu último disco gravado com o "camisa" Marcelo Nova, foi um dos melhores da história da música brasileira (vou escrever outro texto sobre "A Panela do Diabo"). Evidente que é a minha opinião. Ele conta numa música desse disco que estava caminhando perdido em Nova York, às 3h da manhã, quando um mendigo vestido de palhaço ofereceu lixo pra ele comer. Raulzito encarou, e doido como ele, comeu um "banquete".

Visionário, maluco, Raul era tudo e mais um pouco. Lembro que 1978, num sábado de manhã, "matei" as duas últimas aulas no colégio Santa Maria, fui pra Primeira Quadra, hoje calçadão, tomar umas caipirinhas no Café Cristal. Depois comprei o disco "Mata Virgem", último lançamento do Raul.

Fui pra casa, onde até hoje moram meu pai e dois irmãos, na Andradas, na mesma quadra da boate Kiss, para quem não é de Santa Maria. Aliás, em 78, no local da boate Kiss, ficava o depósito da Brahma, do pai do meu amigo Calberto Roth, muitos barris de Chop comprei lá.

Mas voltamos ao Raul. Em tempos de queimadas do Nero "Bozo", Raul Seixas já cantava versos direcionados à florestas, matas, etc.

O verde. E saibam que o verde da nossa bandeira não representa nossas matas, era côr da Casa de Bragança (D. Pedro I). É, é isso mesmo, basta pesquisar.

O trabalho Mata Virgem não é um dos mais conhecidos dele, mas como seus discos, era profundo, visionário e...romântico, pois somos um pé de planta que só dá no interior. Somos uma mata virgem que vai amadurecendo para se abrir no amor, dizia Raulzito.

A capa é lindíssima, com ele no meio de uma mata. Numa entrevista, Raul disse que a música "era bucólica e romântica, falava da pureza do amor de alguém onde ninguém ainda havido passado". Uma maneira do raulseixismo falar filosoficamente de amor.

Em outra música do mesmo disco, "As Profecias", Raul diz que tem dias que a gente se sente um pouco menos gente, num tempo parado vendo a chuva cair na vidraça. Agora, estou deitado num sofá olhando uma mata virgem, num tempo parado, onde as árvores bailam ao vento.

Não sou a mulher do interior do Raul, aquela pela qual ninguém ainda passou, a guardiã das matagais, mas acho que observando outras matas sei que depois das chuvas o Sol reinará.

Viajei.

Ao começar esse texto, minha intenção era tripudiar o Nero de Brasília, mas o maluco beleza desviou minhas energias. Esqueci do Bozo. Ainda bem. Graças a Deus.

O raulseixismo venceu.

O maluco beleza estava se referindo a uma menina, semelhante a uma planta que só dá no interior (que frase dúbia não é?), porém, acrescento que a mata que vejo pela minha janela tem, como Raul dizia um "capinzal noturno, escuro e denso protetor".

Como citei Nero, ele é lembrado como o louco incendiário, mas antes de pirar, o imperador romano teve como professor o filósofo Sêneca, que controlou a ira dele quando ainda era jovem. Nero foi eleito com apenas 17 anos e ainda tinha uma boa alma, acreditem, tanto que nessa época apoiou Sêneca que escreveu "Clemência" e "Da Tranquilidade da Alma". Quando Nero começou suas loucuras, o filósofo se afastou. Quem sabe Paulo Coelho foi o Sêneca do Raul, ou Raul o Sêneca de Paulo Coelho. Como o maluco dizia em "As Profecias ", está em qualquer profecia que o mundo acaba um dia...

Nessa fase de sua vida Sêneca trazia reflexões sobre o bem estar humano e a paz do espírito condenando mitos (outra coincidência), uma maneira de combater poderosos. E experimentou em sua própria vida os contravenenos porque acabou sendo condenado à morte por Nero, e lembramos, antes já tinha sido hostilizado por Calígula.

Tanto que desistiu de sua luta e no ano de 62 se afastou da vida pública, e três anos depois, desgostoso por completo, tirou a própria vida. Minha conclusão é que erguem lá em cima, pois é das "alturas que fazem escrituras, mas não me perguntem, se pouco ou demais", filosofa o verdadeiro mito, Raul Seixas...

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