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Meu Mundo

Atualizado: 21 de mar. de 2022

Que o individualismo assumiu as prioridades de cada um, não temos mais dúvidas, ressalto porém, para não confundir com egoísmo.

"Apenas" um menosprezo às dores alheias. Um individualismo que segue visões empíricas onde todos querem seus mundos. Cada um curtindo suas peculiaridades. Cada um respeitando suas doutrinas. Cada um vendo e valorizando o "seu".

No seu último romance, "Memorial de Aires", Machado de Assis narra uma passagem nesse sentido, quando o Conselheiro Aires chega a conclusão que "Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular", ao ver a felicidade de um casal amigo recebendo cartas de seu afilhado. Isso no dia 14 de Maio de 1888, um dia após a data histórica do fim da abolição, a sonhada libertação dos escravos.

Ou ainda como a novidade do "poker", chegando dos Estados Unidos e da Europa, tornando-se mais relevante para a elite do que o fato histórico.

Porém, somos assim e hoje quando recebo uma ótima notícia, esqueço da guerra no Leste Europeu. O que interessa é meu mundo e nada mais.

O apaixonado pode estar na miséria mas é o mais feliz em suas redondezas e quem nunca se apaixonou "não compreende a psique do amoroso, nem sabe que nenhuma chuva apaga o incêndio da alma"(Anton Tchékhov, 1860/1904).

Felicidade como a do artilheiro na hora do pênalti, que sorri ao ver o goleiro angustiado, bom, isso se fizer o gol né...

O professor Francisco Wolff diz que as últimas utopias levaram o homem pós-moderno ao individualismo, afinal ele não crê mais na política, duvida do bem e acha que estar sozinho é melhor para sua existência. Ele, sem esperanças, só vê o seu mundo. Sua identidade líquida não garante mais nada e acha (eu acho), que estar sozinho é realmente melhor do que estar mal-acompanhado.

Ele está cansado de tantas injustiças, desanimado e quer que o resto exploda.

Quem já não se sentiu assim?

Aqueles momentos onde o desespero e a perda da segurança cederam espaços às mudanças rotineiras que a velocidade pós-moderna exige.

Vale o que vier, só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher...se Tim Maia cantasse hoje esse clássico, poderia ser escurraçado do seu palco. Ah, mas se eu estivesse lá, subiria no palco e junto com Tim Maia mandaria esses, esses, esses sem noção para os canos subterrâneos dos piores esgotos...credo...tá loko...

Muitos não concordam mais com a solidão de Alceu Valença, aquela que devora. Agora pode ter uma "Alexia" em casa, e namorar, conversar, trabalhar e até transar nas redes sociais.

Ter seu mundo e nada mais. O filósofo Cícero dizia que o meu mundo, o seu mundo, o nosso mundo é como uma pousada. Uma passagem...

Aliás, a filosofia sempre é bem vinda, ela age como um "susto", um despertador, e não é por acaso que opressores diminuem cargas da disciplina dos currículos escolares.

Assim vamos indo, entre prós e contras percebendo que a individualidade reforça o auto-conhecimento e a liberdade. Uma liberdade diferente, muito diferente daquela sociedade da primeira metade do século XX onde casamentos eram negócios e onde interesses decidiam futuros.

Nesse sentido, a individualidade supera costumes sociais nefastos. O pós-moderno permite tais condições. Temos mais acessibilidade às nossas jornadas com caminhadas ensolaradas afastando um possível breu no meu cotidiano. Evidente que casamentos felizes entram nessa conta.

E quando as curvas insinuarem seus conceitos malignos, vou gritar aos anjos e seus parceiros.

Pois é amigos e amigas, a individualidade pode ser um bom caminho, embora não a única. A verdade é que cada individuo decida sua rotina terrena, pois quando os primeiros vermes roerem minhas carnes frias, também quero ouvir palavras de amigos dizendo que a "natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade", palavras que Brás Cubas ouviu a sete palmos da terra de um dos seus amigos.

Com essa pretensão funesta, espero que as "tintas da melancolia" estejam a milhares de milhas da minha existência.

Sem arrependimentos, não quero repetir Pedro que chorou depois de negar seu amigo três vezes.


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