Micropoderes da Sauna
- cocatrevisan
- 23 de nov.
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de nov.
Morei seis anos em Florianópolis e durante este tempo frequentei um clube onde fazia sauna três vezes por semana.
A sauna tinha um bar perfeito, televisores enormes, churrasqueira, etc.
Aliás, acho que metade da turma curtia mais o bar do que a própria sauna...
Eram mesas divididas quase por classes ou ideologias e seria um ótimo local para Marx estudar representantes da pós-modernidade.
Se espantaria com cada espécime rara.
Acho que o sábio seria mais um beberrão depois de escutar cada teoria no estranho local
que faria (Lima?) arrancar sua famosa barba.
Sem interferência, pelo menos direta do Estado, as opiniões revelavam os micropoderes que Michel Foucault tanto descreveu em suas arqueologias.
Os poderes periféricos dançavam sobre as mesas e nesse complexo de micropoderes o baile ideológico imperava no ambiente.
Eu sentava numa cadeira próxima, porém em outra mesa, só escutando, geralmente com um ou outro parceiro,
embora amigo de todos.
Entre 20hs e 22hs as vozes fascistas dominavam os debates na esfera social onde inocentes súditos apoiavam seus algozes. Seus sonhos eram entrar no grupo dominante...
Depois das 22hs os senhores imperadores já haviam partido para seus castelos (alguns imaginários, aliás, a maioria).
Com as cervejas e vinhos já fazendo suas partes, estranhamente um socialismo entrava em campo, embora alguns ainda teimavam taxar de comunistas.
Ainda assim os micropoderes pendiam para os "comedores de criancinhas".
Tenho certeza que Foucault também iria gostar de participar deste campo de pesquisa...
Ora, para assimilar opiniões doentes só com auxílio de um escritor que inseriu a psiquiatria na história dos loucos.
A "minoridade" (incapacidade de usar o próprio saber) de Kant espirra nas mesas divididas.
Como acontece?
Em suas arqueologias Foucault detalha retalhos dos micropoderes com colaboração das instituições punitivas e basta observar o grupo de semi-pelados no bar de nossa extravagante sala de discussões onde escutamos teses de outros planetas.
O Estado não está ali, mas a essência dos micropoderes circula em copos, garrafas, salgados e arrogâncias.
O professor Roberto Machado(UFRJ) diz "rigorosamente falando, o poder não existe, existem práticas ou relações de poder"...ahhhh...
Como em mesas de bares.
Como em conversas num cafezinho.
Como no trabalho.
Como numa...sauna...
Lá estão os micropoderes rodando, gritando, oprimindo, obrigando, ditando, etc.
Com seus olhares invisíveis e vigilantes a disciplina está soberba.
A individualidade bailou na curva.
O homem dócil e útil respinga nos copos onde micropoderes descem em gargantas inocentes.
Infelizmente, tudo está em seu lugar...
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