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Mortos Falantes

  • cocatrevisan
  • 5 de out.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de out.

Vozes que pedem ouvidos.

Já tentaram nos calar mas quem diria que 50 anos depois, Braga Neto está preso. E "apesar de você", Chico Buarque deu um jeitinho de soltar nossas palavras.

Machado de Assis com "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e Veríssimo com "Incidente em Antares" deram representatividade aos sepultos com cadáveres exigindo ouvidos e abrindo seus caixões para exporem suas ideias.

Ora, os mortos tagarelas...querem falar...

Agora, imagine você num enterro de um familiar distante. Depois do enterro, cansado, você quase adormece numa lápide.

Sonolento, começa a ouvir vozes, são os cadáveres conversando entre si, como um funcionário discutindo com um general que ele detestava sobre um antigo projeto.

É Dostoiévski em Bobók...

Seus contos fantásticos, seus personagens suicidas mas com propostas libertárias e cristãs em busca de algo redentor no final.

Os mortos querem falar assim como "vivos" em seus devaneios.

E vejam só, os humilhados aparecem nos diálogos surreais quando um ofendido pergunta ao general "como vai sua saúde"?

Um outro questiona sua estima mesmo depois de morto pois era um "amável polisson"(vagabundo em francês).

As disputas de classes são eternas.

Mesmo mortos alguns querem mandar seus inimigos às favas (bobók).

Outro lembra a um novato da nova morada que "não acreditaríeis como isso aqui carece de vida e graça".

Ainda assim dão boas vindas para os novos moradores ao "Vale de Josafá"(símbolo bíblico onde se dará o Dia do Juízo Final).

Cada uma...

Que "vidas" estranhas desta turma que insiste em dialogar.

Eles garantem que ainda tem três meses para suas últimas palavras e daí, o silêncio derradeiro.

Fazem um acordo para que neste período nenhuma mentira deve circular pois na "Terra, vida e mentira são sinônimos".

Que turma.

Só querem desabafar e revelar segredos.

Querem mandar tudo às favas e garantem que nunca foram tão felizes como agora, pois arrogância, ego, soberba...desapareceram...

Estão no subsolo e conversam animadamente.

A ataraxia do ceticismo está presente.

Me dá esperança de que...um dia...quando for...calma, vou para lá com certeza.

Pretendo caminhar muitos anos nas areias, gramados floridos, ruas, terras e tudo mais o quê um autêntico flâneur admira.

Quero saborear o Sol da primavera de Beto Guedes, as luzinhas do Natal, etc.

E fico alerta quando um certo desânimo recrudesce e insiste em bater na minha porta.

Minhas sessões de Reik, minha família, filha, neto, livros, Bob Dylan, CDs, discos de vinil garantem a boa nova e o resto que vá à Bobók...

 
 
 

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