Num dos últimos textos comentei sobre a rotina dos piratas, suas aventuras, saques e batalhas. E citei como exemplo a série "Black Sails", que a Netflix oferece em sua grade.
As corridas pelos tesouros do lendário Capital Flint e John Long Silver, onde cada um sonha por sua parte nas riquezas dos roubos e saques. Até parece o pessoal de BrasÃlia.
Fui reler "A Ilha do Tesouro" (tenho duas edições tradicionais e duas em quadrinhos), sendo que a melhor é uma que faz parte da coleção "Grandes Clássicos da Literatura em Quadrinhos", da editora delPrado com gravuras belÃssimas. Uma viagem para os olhos. A coleção tem obras de Júlio Verne, Leon Tolstoi, Vitor Hugo, Daniel Daffoe, James Cooper, Zola, Cervantes e por ai vai...uma beleza.
A Ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson foi publicada em 1883, e narra um romance de pura aventura, e mesmo de aprendizado, pois o protagonista central, o menino Jim Hawkins "amadurece" à força. Ele perde o pai numa famigerada hospedaria e segue para os mares acompanhando a turma do Capitão Flint como jovem aprendiz vivendo todo um rito da passagem de sua infância para a fase adulta. Podemos dizer ainda que trata-se de um romance autobiográfico, pois Stevenson foi viver numa ilha perdida no Pacifico, a ilha de Samoa, entre o Hawaà e a Nova Zelândia.
Foi idolatrado pelos nativos que o elegeram como chefe deles e quando morreu foi enterrado na ilha. Os indÃgenas conviveram harmoniosamente com ele e chamavam Stevenson de Tusilala, "o contador de histórias", e como ainda nem citei outra obra-prima dele, "O Médico e o Monstro", pretendo publicar outro texto sobre as obras e as aventuras do "Tusilala".
Agora, imaginem o que era essa ilha no inÃcio do século XIX, isolada no PacÃfico. Lembra uma "cena" do jovem Jim ao chegar numa ilha desconhecida, quando ele sai correndo entre árvores, pulando de galho em galho sentindo uma "liberdade de admirar o que estaria ao meu redor...agora eu sentia a alegria da exploração ". Para ele, já tinham encontrado o tesouro.
Acho que nossas vidas transcorrem assim, encontramos tesouros mesmo em pequenas coisas, cada um tem o "seu" tesouro.
Para alguns, tesouros são coberturas de frente para o mar, enquanto para outros, como crianças, aprender a assobiar pode ser tão relevante quanto à cientistas descobrindo novos planetas ou curas milagrosas. Há diversos tipos de tesouros com valores diferentes.
Mark Twain em "As Aventuras de Tom Saywer" descreve o tesouro de Tom como uma grande regra da ação humana, quando ele chega a conclusão que para obter algo de crianças e adultos, basta tornar esse algo, difÃcil de se obter. Assim, ele trocou maçãs, caniços de pescar e outros "tesouros", por trabalhos alheios numa cerca, levando todos a acreditar que ninguém pintaria como ele.
A felicidade de um pode ser totalmente oposta do outro, tesouros de uns, desgraças de outros. Muitos indivÃduos acreditam em maneiras rápidas de enriquecer, é o suficiente para uma vida feliz, repleta de luxos e confortos. Quem não gostaria não é mesmo? Porém, não podemos negar que aqueles que conseguem com seus próprios recursos, serão mais felizes, com tesouros mais saborosos.
Lembro que não havia alegria maior quando o sino batia no colégio anunciando o intervalo, o "recreio", lembro até do horário, "vinte pras dez". Era nosso tesouro. E se hoje, "sextou" para tomar aquelas geladas, na infância, Sexta era a glória, dois dias sem precisar levantar cedo para ir para a aula. O problema era que depois vinha a Segunda-feira, e a liberdade desaparecia para a prisão que vinha chegando. Tesouros de todos os tipos. Tesouros com valores e significados opostos.
Como seria bom se na infância pudêssemos dormir na chuva, não ser obrigado a ir ao colégio ou na missa, ficar acordado até a hora que quisesse...verdadeiros tesouros...
Pessoalmente, a Paz, com "p" maiúsculo é para mim um tesouro, basta perceber como transtornos emocionais são desgraças atuais e o alivio desses tormentos significam uma vida mais plena. Interessante é que quando estamos vivendo fases tranquilas, muitos sentem falta de algo, isto é, uma diminuição de preocupações resulta em "vazios" para muitas pessoas. Sabem aquelas pessoas que têm medo da aposentadoria?
As pessoas querem mais, vidas com significados, e o materialismo preenche essas lacunas para milhões de pessoas. Como dizia antiga música, é preciso estar atento e forte, pois as armadilhas existenciais perambulam nossas cabeças animais.
Quando planejei esse texto, não desejava seguir chavões de livros de auto-ajuda, mas o texto foi me levando, levando...levando...
Não adianta brigar com o momento e lá vou com perguntinha tÃpica dessa literatura.
Afinal, qual o seu tesouro?