Grandes Esperanças é um dos clássicos de Charles Dickens(1812-1870) e narra a história de um órfão na Inglaterra do século XIX. Ele está rezando em frente ao túmulo de sua família numa vila miserável, esperando que um milagre aconteça na sua vida. O órfão mora num lugar sombrio, úmido, num pequeno vilarejo, e para piorar, uma onda de violência paira sobre um mundo sem perspectivas. Crimes povoam o nordeste da Inglaterra, que passa por mudanças sociais diante do aumento populacional, Revolução Industrial, desemprego e fome. Uma realidade dura, e viver requer esperanças.
Freud dizia que "acreditamos que o trabalho científico tem o poder de nos ensinar algo sobre o universo, a realidade e que por esse meio, aumentamos o nosso poderio e podemos organizar melhor nossas vidas", um tipo de esperança por outro viés.
Acho que além de crêr na ciência, considero fundamental a ética e a nobreza, assim como Confúcio dizia, que todo homem nobre deve estudar sempre, criando hábitos e disciplina em nossas vidas.
Enfim, tudo permeia e objetiva a corrente que valoriza a esperança.
Sociólogos, psicólogos, filósofos e doutores de várias áreas realçam o conceito "esperança". Todos convergem que esperança é sinônimo de viver.
A literatura entra no debate, aliás, prossegue. Quem não leu ainda as inúmeras obras de J.M.Simmel, onde o cerne central sempre se refere à esperança. Livros como "Ainda resta uma Esperanca", " Viver é Amar", "Amanhã é outro dia", alguns relatando o caos na Europa, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
A vida era mais sobrevivência do que qualquer outra coisa numa Europa devastada pelas bombas nazistas e dos aliados, mas os personagens de Simmel são resilientes e dizem que "temos a obrigação de nos ocupar e de ajudar a colocar ordem nesses caos". Ou outro que diz, "estamos presos na armadilha da própria esperança".
Sobreviventes de Viena se questionam, "qual o sentido da vida desse estranho carnaval que se chama vida", acrescenta Simmel.
Em Nuremberg durante uma brincadeira de "julgamento" entre crianças, uma delas morreu enforcada por descuido. Mas apesar de todas essas desgraças, lembramos que onde existe resiliência, existe esperança. Simmel ainda filosofa, quando afirma que mesmo quando tudo vai bem, algo de ruim pode acontecer. É o caso do personagem Mamoulian (Ainda resta uma Esperança), que tenta reconstruir sua casa em ruínas, com ajuda de dois sobreviventes que vão morar com ele, e a ajuda de um rico empresário que doa materiais. Mamoulian diz que sabe que nada vai adiantar "chorar nas horas tristes, pois a a alegria virá novamente, e ao mesmo tempo, alegrar-se demais com a sorte, agarrar-se a ela, porque ela também não é duradoura.
Porém, sempre há um porém, a esperança tem suas peculiaridades.
Os estóicos revelam que a esperança pode ser um mecanismo de...alienação. Calma, já explico.
A esperança é uma forma de desejo, no futuro, não existe hoje, agora. Por exemplo, você quer viajar para a Europa no ano que vem e tem esperanças que vai conseguir realizar seu sonho. Portanto, você não está vivendo, usufruindo a esperança nesse momento. Ela está por vir.
O filósofo Clóvis de Barros Filho vai além, ao afirmar que se "vivêssemos cem por cento da vida inteira com esperança, ou se aceitarmos os conselhos de muitos...passaríamos a vida sem gozo, sem júbilo e sem prazer".
Não pretendo viver sem esperanças, mas...quem sabe...pensando bem...
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