Com licença de novo meus amigos Cachoeira e Pijama, integrantes do extinto mas inesquecível grupo musical Gaúcho dos anos 80, 90, "Tambo do Bando". Depois que comprei o CD comemorativo de 30 anos, estou sempre escutando "Terra", "Os Homens de preto" e volto a décadas passadas.
Noite dessas, estava em casa, curtindo meus discos de vinil, CDs, etc, quando escuto que " eu abraçava o anjo, aquele que tocava o banjo...e cantava".
Me emocionei, faz pouco tempo que meu irmão de 53 anos havia partido, e eu olhando o céu estrelado, parecia ver o anjo, aquele, que tocava o banjo. Ver um céu estrelado me faz sentir que "tamo junto". Mas me "liguei" na letra e viajei por outros mundos, crendo nas promessas Dele, o Mestre dos mestres.
Mandei uma mensagem para o Cachoeira e após quinze minutos, veio a resposta, apesar de não termos contato há 30 anos. Só a internet e suas redes sociais para tais encontros. Cada época com suas metamorfoses tecnológicas.
Como o "Conselheiro Aires", de Machado de Assis, que em dúvida se deveria falar aos amigos sobre um assunto irrelevante, mas que o antigo papel aceitou: "não diria isso a
ninguém cara a cara, mas a ti papel, a ti que me recebes com paciência e com satisfação, a ti velho amigo, a ti digo e direi, ainda que me custe, e não me custa nada".
Ah, se o Conselheiro tivesse face, Twitter, Instagram...
Enquanto isso, o anjo que tocava o banjo, segue tocando para amenizar noites existenciais sofridas mas que fazem parte do espectáculo da terra, aquela terra que o grupo exalta "para não nos deixar agora, eu quero me redimir".
Mesmo porque, depois que eu partir, quero (e acredito) no algo mais. O filósofo Cícero tem uma frase que balança o mais descrente:"se, como dizem alguns filósofos de baixa categoria, nada existe após a morte, então não preciso temer que zombem de meu erro, já que eles...morreram".
Enquanto isso, abraço e vejo o anjo, aquele que tocava o banjo. Quase num transe budista, permaneço escutando o anjo, enquanto as aflições partem para horizontes longínquos. A doutrina budista de mais de três mil anos corrobora na paz desejada enquanto o anjo me abraça. Eis o poder da música com seus capazes compositores, realçando Nietzsche quando dizia que a vida seria insuportável sem a música.
A vida sem a música com certeza seria diferente e mais rancorosa, é ela que traz mensagens e dialéticas comprometidas com a realidade social, claro, músicos como Gil, Caetano, Raul, Chico, etc, não os...bom, melhor deixar para lá e evitar polêmicas.
Letras filosóficas, ou como diz o outro, com conteúdo, como Bob Dylan, o "The Best".
Letras utópicas? Algumas sim, mas aí reside também os caminhos do anjo, aquele que tocava o banjo, caminhos que mesmo ilusórios refletem nosso "dez por cento da cabeça animal" visando uma sociedade alternativa.
Dessa forma, confirmamos que as palavras, faladas ou escritas, transformam linguagens com seus jogos de linguagens, diria Wittgeinstein.
Pouco importa se o anjo, aquele que tocava o banjo, é real ou não, para mim vale o que ele representa, a esperança... cantando...e abraçando...
E eu aqui curtindo o anjo, quando percebo que a letra de Sérgio Metz (falecido Jacaré), diz que abraçava um anjo, que tocava um não-anjo (não-anjo?), que tocava um banjo...embaralhou tudo.
Ainda assim sei que esse anjo é muito diferente dos padres cristãos que Charles Dickens descreve em " Um Conto de Duas Cidades", que mandaram cortar as mãos de um jovem, arrancar sua língua e queimar o infeliz somente porque não se ajoelhou na chuva na passagem dos "simpáticos padres".
Sim, anjo ou não-anjo, o Tambo do Bando lembra que nas noites em que não temos nenhuma idéia do que poderia acontecer, e que acontecem, eu "queria ver a vida um palmo além da cicatriz ".
Sim, os ciganos vão para os céus (nome da música) mas pretendo seguir o mesmo caminho com familiares, amigos e até inimigos.
Enquanto isso, eu abraço o anjo, o não-anjo, aquele que toca o banjo, por que eu, os ciganos, você...todos...vamos para os céus.
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