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Oprimidos Voluntários

Atualizado: 25 de out. de 2021

Pronto, o blogueiro enlouqueceu!

Que título é esse? Oprimidos voluntários? Era só o que faltava...

Sempre querendo entender porque milhares de pessoas seguem "mitos" e tiranos, vou lendo algo aqui, algo ali. Porém, nada me completa. Como podem seguir imorais e mentirosos, que fazem justamente o que acusam?

Independente de ser da esquerda ou direita, (todos tem seus direitos), apenas ressalto denúncias das irregularidades de "Curitiba"...

Já escrevi dezenas de textos revelando como "funciona" nossas mídias, as facetas da indústria cultural, mas para alguns indivíduos, essa compreensão não transparece.

Até que meses atrás, conheci a literatura do filósofo Lá Bruyère (e reconheço que nunca tive acesso às suas teorias). Seu livro "Caracteres"(1588), me deu asas, e um texto em forma de panfleto me levou às alturas, e tudo se abriu numa fenda de loucos pensamentos, como diria Zé Ramalho.

O texto "O Discurso sobre a Servidão Voluntária" rasga minhas angústias políticas e revela porque milhões permitem se escravizar como ceguetas políticos.

Aliás, minhas buscas em textos ou livros estão sublinhadas com o próprio Lá Bruyère quando ele diz que "todo autor que escreve com cuidado, nota muitas vezes que a expressão que há tanto procurava sem a encontrar, e que por fim a encontrou, era afinal a mais simples e natural, que devia ter lhe ocorrido de imediato e sem esforço".

Ainda mais quando troco ideias com aqueles que acham que fazem parte da elite e estão devendo para todo mundo, da padaria na esquina aos bancos, financiamentos, etc.

Esses já são auto-oprimidos (existe essa palavra?). Mas, vamos ao panfleto esclarecedor. Escrito entre os anos de 1546-48, a atualidade do texto é impressionante quando Bruyère diz que "o ser humano encontra-se em amarras autoinfligidas por toda parte". E não adianta esperar que o progresso amenize as desigualdades, uma das causas dos numerosos seres oprimidos. Aliás, muito se fala que não temos sociedades mais justas porque o progresso ainda não é aquele desejado. Aí entram os frankfurtianos, pois eles dizem justamente o contrário, a barbárie é consequência desses supostos progressos.

Antônio Álvaro Zuin escreve em "Indústrias Culturais e Educação ", que "é de estarrecer a constatação atual onde temos as condições objetivas de simplesmente eliminar a fome da face da terra e, ao invés disso, o que observamos é justamente a reprodução da miséria e da barbárie". Incrível não?

E o homem livre, aquele do "progresso", cede à submissões de todas as vertentes chegando ao horror de se transformar num oprimido voluntário. Vou repetir, oprimido voluntário. A opressão é tão devastadora que não vendo mais saída para si, o indivíduo, pasmem, prefere ser um oprimido voluntário.

Já vimos isso. A tese de Lá Bruyère me fez recordar de outros voluntários. Na Guerra do Paraguai quando os paraguaios invadiram Uruguaiana, surgiram centenas de Voluntários da Pátria. Teve ainda os escravos negros que se apresentaram pois era prometido sua liberdade quando voltasse da guerra, isso se estiverem...vivos.

Lá Bruyère descreve que é o povo que se pune ou se degola, e rejeita a liberdade porque teme sua sorte, já enraizada numa determinada "vontade" de servir. Relevante considerar que os poderosos adquirem poder pela força das armas, outros pela simples sucessão e ainda os que chegam eleitos pelo povo. Nesse quesito, não estou incluindo golpes, fraudes e ditaduras. Talvez Bruyère queira dar uma ênfase maior às relações de força. Para entender como somos doutrinados, as teses dele servem como um prato coberto de delícias, dependendo de cada um, e de até onde vão suas resiliências ou submissões.

Não espero que devemos ser heróis, mas o direito à vidas plenas e dignas. A vida dos heróis certamente enriquecem nossa existência, mas Bruyère lembra que mesmo eles podem ser "devedores, aqueles que escreveram a história para aqueles que lhes forneceram tão nobre assunto, ou esses grandes homens a seus historiadores". Para quem não entendeu, esclareço que é evidente que a história "embelezou" os heróis, mas microhistórias falam dos injustiçados e renegados, mesmo possuindo vidas dignas de heróis. Ela não esqueceu dos nomes desconhecidos que poderiam ter êxitos se tivessem oportunidades.

"Quantos homens admiráveis, que possuíam real talento e que morreram sem que ninguém falasse deles" disse nosso filósofo. A luta contra a opressão faz parte dessas existências, e os oprimidos voluntários estão longe de encontrar soluções se continuarem com seus passos erráticos.

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