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Os Malucos Dadaístas

Atualizado: 22 de out. de 2021


Diante das ruínas da I Guerra Mundial, os pintores e escritores do Dadaísmo assumiram o compromisso e chocaram a Europa com suas "maluquices". O movimento (1916/1922), foi revolucionário com Man Ray, Francis Picabia, Marcel Duchamp entre outros que apontaram o absurdo da guerra. O escritor e crítico de arte Guillaume Apollinaire escreveu: "todas as memórias de um tempo recente, oh, meus amigos que foram para a guerra, onde estão eles, os amigos Braque e Max Jacob...cujos nomes ressoam com melancolia, talvez já estejam mortos".

Assim o Dadaísmo chegou arrasando e rasgando nos verbos e pinturas. Ora, a guerra revelou o pior do humano com suas porcarias e o "Dada" mostrou a política de uma terra arrasada, o caos, onde tudo era uma porcaria, a estética, o dinheiro, tudo.

O próprio conceito "Dada" já era diferenciado para se afastar dos demais movimentos, com vários significados, inclusive "não significar nada".

Eles queriam renovação, não reconheciam nenhuma teoria e confrontavam o burguês, aquele que "criava arte para ganhar dinheiro". Os Malucos queriam criar, destruindo, com suas pinturas e colagens, enfim, era um movimento com um interesse desinteressado.

Para mobilizar uma sociedade desiludida, chocaram o mundo das artes. Como eles diziam, um caos com respeito, uma resposta às trincheiras insanas da guerra onde a razão foi aniquilada por gases mortais.

Onde o real se perdeu e seu sentido desapareceu, virou pó diante tanto horror. Assim, os dadaístas desejavam questionar o que era mesmo o "real", e o que fizeram da lógica.

Ora, a lógica permitia argumentos, mas onde ela estava diante dos horrores da primeira grande guerra mundial?

E os malucos, que nesta hora, não eram os doidos, entraram no debate do racional ou do irracional.

Esculhambaram a axiologia e seus valores pois para eles, como a sociedade estava doente, tratava a mesma como se todos nós fóssemos crianças.

Trouxeram seus quadros bizarros, porém com conteúdo existencial e propostas revolucionárias. E seguindo Freud, incrementaram suas teorias, o que na época era novidade.

O inconsciente com suas côres da alma sendo retratado nas obras de todos eles. Outro maluco, Raul Seixas dizia que "está em qualquer profecia que o mundo acaba um dia", aliás, tá aí um seguidor dadaísta.

Nós não vamos pagar nada, estamos diante de um céu carregado e rajado suspenso no ar e eu prefiro seguir as metamorfoses ambulantes e dadaístas. Gostaria de ver os tigres voadores de Salvador Dali, sim, para renascer diante do apocalipse, pois para quem não sabe, apocalipse significa renovação.

Em seu quadro famoso "Persistência da Memória", Dali apresenta uma alusão à algo adormecido, quem sabe um sono derrotado com relógios derretidos e um outro coberto de formigas, significando talvez nossos subsolos, como diria Dostoiévski. Apoio total aos malucos dadaístas e seu Cabaret Voltaire. O grupo era genuíno, autêntico, eles assumiram sua "maluquez". Em 1915, o poeta e escritor alemão Hugo Ball abriu o Cabaret, um local em Zurique para apresentações de artes de todos os tipos. Quem conheceu o bar Ocidente em Porto Alegre? Era assim o Cabaret Voltaire, rolava tudo.

Em suas memórias, Ball descreveu o primeiro concerto: "Madame Hennings e Madame Laconte cantaram canções francesas e dinamarqueses, Monsieur Tzara leu poemas romenos e uma orquestra balalaica tocou agradáveis canções folclóricas russas com danças".

Era um espaço para se expressar sem medo, sem preocupações com tradições, afinal o Dadaísmo desejava negar tudo. O Cabaret era um caldeirão. Certa noite o local explodiu com chocalhos, tamborins e caixas de madeira servindo de instrumentos...eles diziam que era a abolição da memória.

Valia tudo para renegar uma guerra das proporções da I Guerra Mundial. Enfim, o grupo era niilista, revoltosos e em cada noite, quantos mais copos de cerveja circulavam, mais o Cabaret pegava fogo. Para eles, isso era vida, arte...e eles eram malucos mesmo, um desapareceu, outro declamou frases desconexas e caiu morto dentro do Cabaret.

George Grosz, outro integrante, voltou perturbado da guerra, quase louco, mas deu tempo de aprontar no Cabaret Voltaire.

Enfrentou o partido nazista com as forças que ainda lhe restavam.

O Dadaísmo foi na verdade, mais que um movimento, e conforme Max Ernst, outro maluco beleza, foi "um surto de raiva e entusiasmo pela vida". A lógica foi ignorada, seu conceito era dúbio e ninguem mais sabia diferenciar o que era certo ou errado. Na guerra e no Cabaret. A própria guerra destruiu paradigmas.

Acho que eles buscavam mostrar que a lógica também estava em crise e o pensamento exigia novos conhecimentos, pois ficaram paralisados pelo caos das bombas insanas.

Vamos todos para o Cabaret Voltaire...

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