Alceu Valença já anunciava que "na bruma leve das paixões que vem dentro, tu vens chegando para brincar no seu quintal".
Paixões que vem de dentro? É, acho que sim mas se Descartes considerava que estamos sim no corpo e não somos esse corpo, onde estão nossas paixões?
Dentro, fora, no coração, na taça de vinho, onde, onde?
É, agora os métodos são complexos meu amigo da razão. Ora, se o filósofo Homer Simpson dizia que quando a culpa era dele, fazia com ela o que quisesse, então minhas paixões são...minhas...
Dizem que a filosofia exige coerência com suas questões "o que é", ou como são as coisas, e sendo assim, como vou definir algo que vem de dentro (ou não)? O que é para mim pode não ser para você e assim a confusão recrudesce.
Ainda bem, não quero que minha paixão seja igual a sua. E além do mais, como medir nossas paixões? Impossível, o relevante é que tendo paixão, algum sentido existencial assegura a continuidade.
Tendo paixão, tenho vontade, não esmoreço e acho que concordamos que se a paixão não é racional, ela, diríamos, rejeita a razão não é mesmo?
E mesmo a paixão não correspondida, que sim, vai doer(onde?), mas se já sentimos ela alguma vez, então sabemos de sua existência. De dentro, de fora ou das poderosas mãos do Dr. Spock.
E a reflexão (não tenho certeza se essa é a palavra exata no contexto), é que a paixão está em nós desde sempre, como na idade clássica que já tinha seus "estudos".
No livro "As Paixões Antigas e Medievais"(de três autores), a paixão é vista através de três quesitos, a encarnação, o engendramento e a produtividade.
Na encarnação a paixão está ligada ao corpo, aquela lembrança de que a paixão está no corpo e na alma.
A segunda, penso eu, é reconhecida quando o amor como paixão assimila causas exteriores, isto é, quem vive com paixão "engendra" outras virtudes, esperanças, está mais leve, afinal concordamos que diante de um problema ou situação, quem está com a paixão na alma, leva certa vantagem.
A terceira é mais complexa, envolve paixões da sociedade ou civilizações e como depende de contextos históricos, deixo para outros textos. Gosto do "engendramento" pois se é uma teoria da idade clássica, situo semelhanças, acreditem, pós-modernas. Claro, em minha perspectiva e respeitando posições históricas. O engendramento une a paixão com o entusiasmo, a imaginação e até a razão está nesse samba doido pois ela é atropelada pelas forças da paixão.
E não só para a "boa" paixão, pois quando militares entram em guerras, suas paixões estão doentes.
Como Pierre-françois Morreau diz no referido livro, a paixão tem representatividade "quando funciona como obstáculo ou como freio impedindo uma razão segura".
Vejam, a paixão trabalha como se fosse um motor, tanto para o apaixonado como para ações maléficas. É um tema complexo e estou mirando questões diante das teorias da idade clássica, entre os séculos XVII e XVIII, mas como já lembrei, há semelhanças pós-modernas e porque a linguagem temporal e filosófica nos permite novos conceitos com antigas palavras.
Os desejos nos acompanham, são atemporais, mas reparem que curioso, Sócrates dizia que não existe desejo do corpo porque esse é sempre um desejo de algo que está faltando.
Esses filósofos...como é que é?
O desejo só surge quando o indivíduo sente falta de algo, então não é um "desejo" propriamente dito?
Sensacional, lembrei de um texto onde afirmei que deixar de desejar significa um desejo.
Ficou confuso?
Filosofias exageradas?
Não, a filosofia e a poesia formam caminhos alternativos e o seu diagnóstico está integrado, vale o seu conhecimento, mesmo porque alguém já disse que todo poeta nunca encerra seu passado.
Ora, vale o mesmo para você e para todos, pois o seu empirismo vai determinar suas jornadas.
Dentro, fora, interna ou externamente.
Alceu Valença tem razão, as paixões vem...tu vens...tu vens...
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