Um idoso entra numa sala com sua velha bengala. Está bem vestido e aguarda sua vez para renovar seu passaporte.
A espera promete ser longa e ele conversa com uma mulher ansiosa.
Rica e excêntrica, reclama da demora enquanto o ancião conversa com a maior calma do mundo com uma paciência que acalma a dama de ouro.
O tempo passa.
Mais de uma hora quando um empresário impaciente diz para o velho que vai viajar para fechar um grande negócio. Mesmo assim diz para o velho que não está feliz e faria qualquer coisa para não estar ali.
Conselhos do experiente senhor lembram que sempre depois da tempestade vem à bonança.
Sempre.
E as mudanças surgem quando menos esperamos.
Passam mais duas horas e o idoso aguarda sorridente sua vez quando um jovem médico conta sua vida.
Não trabalha mais como pediatra como era seu sonho, agora é um médico geriatra "porque ganho mais dinheiro...muito mais..."
O idoso conversa quase uma hora com o doutor que no final desaba chorando dizendo que está "perdido".
Com sua sabedoria, nosso personagem central revela dramas que passou em sua longa jornada e lembra que sempre há tempo enquanto há vida.
Engraçado, ele dizer isso para um médico.
Passam mais três horas e nosso idoso segue calmo...
Entra um moreno de dois metros de altura, cantor Rap e encara o velho.
"O que foi velhote?" pergunta já sentindo aromas racistas. Novamente o idoso surpreende e canta um rap que ele afirma ter feito na sua juventude.
Conquistou mais um amigo, que admirado, disse que jamais esperaria que um velho "branquelo" formaria uma dupla com ele.
Uma outra senhora se sentia a Rainha da Inglaterra contando suas viagens.
O velho sorria.
O médico que tinha saído para "respirar" retorna depois de duas horas e diz para o velho que seus conselhos podem fazer ele repensar e voltar a ser pediatra...quem sabe...
Um outro rapaz, raivoso, chega atrasado mas quer ser logo atendido.
Precisa viajar para ver um irmão que não vê há 20 anos e só vai porque ele ficou viúvo.
Outras experiências do idoso sensibilizam o afoito jovem.
O tempo passa mas o idoso não reclama, porém se indigna com as impaciências alheias.
Apesar de tudo reconforta os seres de Deus e sabe que não somos perfeitos.
Sabe que quando Deus fez o homem no sétimo dia, já estava cansado...
O tempo passou, todos foram embora e ele está agora sozinho, um pouco melancólico.
Levanta e vai embora.
Caminha duas quadras e entra numa casinha de papelão de três metros para dormir.
Era sua casa...
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