"Pelos Caminhos da vida nunca sozinho estás, ó vem conosco vem caminhar, Santa Maria vem, vem, vem...", lembro com saudades da minha infância no colégio Santa Maria, onde cantávamos com vontade essa música.
Na época, ficava em dúvida se Santa Maria era a virgem ou se referia à cidade, coisas de criança.
Caminhar. Nunca fui de caminhar, mesmo sabendo de seus benefícios e nada melhor para apreciar paisagens e ruas. Admiro os caminhantes e sei que estou devendo.
Rubem Alves cita Nietzsche que disse que somos tolos com nossa pressa. Um exemplo dele evidencia nossa impaciência, quando observou que numa subida de uma montanha, a pressa das pessoas em chegar no topo evitava deles apreciarem paisagens exuberantes no caminho.
A poeta mineira Jane Rodrigues é uma que caminha, caminha e caminha. Já perguntei onde ela quer chegar, mas segundo ela, caminhar é uma filosofia de vida e "quando olho para trás, céus, quanto já caminhei, quando olho para frente, penso, céus, que bênção acreditar que há um mundo vasto para caminhar".
Suas poesias estão no seu livro "Passos de Corpo e Alma", no infindável e misterioso caminho da vida.
Imaginem agora a situação, você chega numa encruzilhada. Dois caminhos, um com uma placa lindíssima, visual deslumbrante, prometendo um mundo maravilhoso, enfim, seus sonhos serão realizados. E o melhor de tudo, sem esforço, que maravilha.
A outra direção também garantia uma estrada poderosa e tudo aconteceria a seu tempo, mas somente com muito trabalho e dificuldades. Qual o caminho devemos escolher? só idiota para escolher o caminho mais difícil não é mesmo? Pois Hércules escolheu o caminho com maiores obstáculos e somente assim se tornou um mito, era o seu propósito. Bonito, mas ainda acho que o caminho mais fácil...
A fábula de Hércules nos remete e lembra as tais zonas de conforto. Ninguém tem dúvidas que caminhos mais fáceis são, "mais fáceis", e mesmo lembrando que o mais difícil é mais gostoso, sabem como é né...mais fácil...
Caminhos. Nós vamos prosseguir companheiro, sendo caminhantes com convicção ou caminhantes errantes, não interessa, "vamo que vamo".
Quem sabe faz a hora não espera acontecer, e deixemos as dores do corpo para trás pois nada do passado pode impedir nosso presente e futuro, isso é certo.
Ora, o passado não possui poderes no hoje. Não tem, passou.
Vários autores de auto-ajuda sempre dizem que temos o hábito de valorizar nossas cargas negativas, onde residem campos energéticos carregados de corpos com suas dores. Sai pra lá, distância, quero outros horizontes. Quero os caminhos da vida que cantava com o Irmão Bruno no colégio Santa Maria, ele que foi ícone da instituição passando por trezentas gerações. Não sei, mas é possível que esteja vivo ainda, caminhando pelos caminhos da vida ou dos céus. Parece que ainda vive.
Já disse que não caminho o que deveria mas reconheço que nunca vi tanta gente caminhando nas praias, ruas, academias, parques, etc.
Caminhadas de todos os tipos inclusive em nossas jornadas interiores. Como Jane Rodrigues diz: "A estrada da vida me encaminha para minha trilha interior. Em sintonia com o cerne da natureza, atinjo um estado de paz de espírito que me liberta de angústias, tristezas e desafetos". Perfeito.
Caminhar. Com certeza é uma paixão. E um dos principais efeitos da paixão, eu acho, é que ela obriga a alma a se relacionar com o corpo.
Essa paixão faz nossos medos fugirem, pois a conexão entre alma e corpo, casadas nas caminhadas, reforçam nossos escudos da natureza. Ficamos mais fortes, limpos e resilientes. Ah, o espírito tá no meio uma vez que ele pode ser a visão, ou melhor, o olho, da Alma. A força deixa para o corpo. E para o coração.
Vauvenargues, Marquês e escritor francês do século XVIII, questionava em suas obras se bastava ter uma vista boa para caminhar, pois não é preciso ter ainda os pés e a vontade com o poder de movê-los?
É, esqueci da "vontade". Bora lá.
Gosto muito de ver filmes na TV, seriados, dramas, filmes de época, inclusive faroestes clássicos, onde na grande maioria, na cena final, o "mocinho" parte para novas jornadas em busca de sentido para sua vida. Como a última cena de Shane por exemplo, que é considerado pela crítica especializada o melhor da história do gênero.
E Raul Seixas dá mais uma receita: "não sei onde tô indo, mas sei que tô no meu caminho..."
Todos sabem, sou otimista. As incertezas do indivíduo pós-moderno não assustam minhas jornadas. Claro, fico atento, elas existem mas não trancam meu cotidiano. Até confesso que existem outros obstáculos em minha vida, mas pessimismo e incertezas não estão nesse time.
Por outro lado, não proponho a doutrina de bobos alegres e mesmo discordando de algumas teses de Augusto Comte, procuro absorver o espírito positivo. Como Comte diz, almejar certa superioridade mental do "Espírito Positivo". E como outros dizem, o filósofo carrega até aqueles que não estão totalmente fechados com ele onde o cotidiano deve seguir com ordem e bom senso, e é aí que mora o problema. Um problemão, exigir bom senso do homem pós-moderno...
Bom senso numa sociedade ávida por dinheiro e consumo não é facil, ao contrário, difícil e complicado.
Ainda assim Comte encaminha estradas para suas teses, e a Lei dos Três Estados entra no debate. Caminhos teológicos, onde tudo começa, segue o metafísico, que por sua vez leva ao positivo, o objetivo final de todas as fronteiras. Por esses caminhos nunca sozinho estarás...não é Irmão Bruno?
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