Autores de várias especializações e diferentes disciplinas costumam dizer que um dos filósofos mais pessimistas da história foi o alemão Schopenhauer (1788-1860). Nietzsche chegou a afirmar que Schopenhauer era tão negativo que espalhava um "perfume fúnebre ". Será?
Em seus aforismos para a sabedoria de vida, ele lembrava que diante de nosso cotidiano conturbado com suas injustiças, seria ridículo uma teoria apenas otimista. Porém, haveria espaço para um mundo feliz usando as "sabedorias da vida". Ele dizia que embora o mundo fosse sofrimento, ao mesmo, ele deixava em aberto inúmeras possibilidades de felicidade. O mundo interior e nosso poder consciente poderiam originar armas positivas. Cada qual deveria conhecer o seu EU. O "Conheça-te a ti mesmo", um dos ensinamentos máximos de Sócrates.
Talvez seja por isso que cada pessoa tenha reações diferentes diante de uma mesma situação. Nunca fique tão feliz quando acontecer algo de bom na sua vida e muito menos tão desesperado quando algo de horrível acontecer, pois rapidamente o que era tão ruim poderá trazer consequências positivas inimagináveis. Como Schopenhauer lembra, por exemplo, que Cervantes escreveu sua principal obra, "Dom Quixote", preso numa cela miserável.
Enquanto isso, resta a nós, simples mortais, viver cada fase de nossa existência. E é Schopenhauer que mostra esses caminhos. Na juventude, temos força, mas nossas insatisfações trazem ansiedades e temores. Na fase adulta, perdemos um pouco da força física mas em compensação, estamos mais experientes, controlando nossa maluquez, diria Raul Seixas. E, por fim em nossa velhice, ficamos acalmados por completo e vemos beleza em pequenas coisas. Surge um equilíbrio entre luz e sombra, como nas pinturas de Rembrandt.
Uma das edições da revista de Seleções da Reader's Digest de 2020, traz um artigo sobre a velhice onde uma pesquisa avaliou dados de mortalidade. Aqueles que tinham opiniões positivas da última fase da vida, viveram 7,6 anos a mais do que os pessimistas. A sabedoria torna-se essência em nossa vida ao deixar o materialismo em segundo plano. Em muitas ocasiões, é melhor valorizar nossas questões espirituais. Sócrates volta à tona aqui nesse texto, quando disse que " quantas coisas existem das quais não preciso". Mas não adianta, o consumismo é regra moderna, queremos tudo. A indústria já percebeu a gana do indivíduo pelo novo, pela novidade, e todos os anos lança um celular mais moderno, uma televisão mais isso, uma bugiganga mais aquilo e a corrida pelo produto mais isso do que aquilo comanda a sociedade do espetáculo.
Essa caracteristica revela uma parte trágica humana pois a eterna insatisfação não permite conviver com sabedoria o que possui. Parece simples, mas um perfume fúnebre escurece a visão de um cotidiano leve com odores agradáveis.
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