Cada (re)leitura de Darcy Ribeiro traz um novo conhecimento atemporal.
Assistindo uma série na Netflix sobre a Revolução Francesa, é de se questionar o porquê da miséria e da fome na época.
Ou, no "progresso" da Revolução Industrial com a maioria vivendo em casebres sem nenhuma condição humana.
Progresso?
Germinal(1885) de Émile Zola destruiu a visão de uma aceleração e desenvolvimento linear.
O naturalismo de Zola desnuda a escola que segue uma realidade fiel e da experiência, mostrando que somos determinados pelo ambiente.
Ah, e pelo capitalismo, indústrias culturais, mídias malditas...
Nosso mundo real.
E imaginário.
Para ficar mais do que evidente basta ver as consequências nas atuais favelas.
Ora, se nossos processos civilizatórios seguissem um progresso racional não teríamos duas guerras mundiais que aniquilaram a Europa.
Eric Hobsbawm já provou que poderíamos ter tudo e não temos muita coisa. Vou simplificar, há milhares de anos os egípcios viviam em lugares inimagináveis com nobres em suas moradias luxuosas, claro, a nobreza, e se compararmos à casas do Velho Oeste, por exemplo (choupanas de madeira), fica deflagrado retrocessos econômicos e sociais..
Que progresso.
Darcy Ribeiro em seu magnífico "O Processo Civilizatório" desnuda as contradições relativas ao desenvolvimento.
Nosso maior antropólogo tratou sociedades avançadas e atrasadas "não como etapas sucessivas da evolução humana, mas como pólos interativos de um mesmo sistema sócio-econômico tendente a perpetuar suas posições relativas", diz Ribeiro.
Seus conceitos de Aceleração Evolutiva e Atualização Histórica formam esquemas em suas teorias sociais latino-americanas que escancaram tensões históricas.
Na Aceleração Evolutiva fica claro que as renovações de cada sociedade tem outros interesses e se inserem em algum momento e, enquanto a aceleração mostra um desenvolvimento geral, a atualização revela as sociedades dominadas, deixando evidente a representação da tecnologia.
As consequências chegam com suas devidas respostas.
Percebem um progresso "relativo"?
Os dominados ou como diria Dostoiévski, os humilhados e ofendidos, como estão sob controle, sofrem uma interrupção em suas evoluções. Na verdade, aqui está o conceito de Regressão Histórica de Darcy entre seus quatro conceitos ou etapas, as demais são, além da Aceleração Evolutiva, a Atualização Histórica e a Estagnação Cultural (vou publicar um texto somente sobre a estagnação no próximo mês).
Fica visível como surgem o desenvolvido e o subdesenvolvido, sem definir o passado e principalmente o futuro, e aqui realço o futuro porque eles, sempre eles, trancam justiças sociais por interesses.
Componentes que perpetuam poderes fazendo o menos favorecido residir em casebres, no século X ou no século XXI.
A clareza de Darcy saiu caro pois eles, sempre eles, exilaram o antropólogo pós-golpe 64.
Do que escapamos em 2023 depois de quatro anos...
Eles querem que o indivíduo consuma Olavo de Carvalho invés de um grande Darcy Ribeiro. Ou assistir a Jovem Klan.
Trazendo retrocessos sociais e culturais, basta ver o currículo do secretário da cultura do último governo, um ator medíocre na "Malhação" da Globo.
Busquei simplificar o texto com exemplos didáticos, porém como disse, em cada nova leitura Darcy revela sua magnitude. Não é a toa que leio seu "processo" há mais de 40 anos.
Eis a relevância de pesquisar, caso contrário ficamos com as teses da Malhação global criando crises culturais que desabam em nosso cotidiano.