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cocatrevisan

Repressões Culturais

Atualizado: 23 de out. de 2021

Como citei Octávio Ianni num dos últimos textos, retorno ao mestre. O livro dele "Imperialismo e Cultura" me acompanha desde a década de 80 (suas páginas já está amarelas e soltas). Fez parte de uma disciplina da graduação e deveria ser leitura obrigatória. Claro que olavistas & Cia diriam que trata-se de doutrinas ideológicas da esquerda, mas o que fazer...

A inversão literária cultural pode ser assustadora, porém, com um presidente que está indignado com a prisão da golpista da Bolívia, o que se pode esperar? E, pior, essas inversões ideológicas de valores conta ainda com muitos seguidores...

Nestes entreveros, como diz o gaúcho, Octávio Ianni é a essência do essencial. Na contracapa de seu livro ele diz que "a finalidade desse livro é apontar algumas condições da produção, circulação e reprodução de ideias e concepções, doutrinas e técnicas vigentes em países colonizados e dependentes. Para conhecer o caráter burguês nesses países, torna-se necessário conhecer as relações entre essa cultura e a cultura divulgada imposta pelos imperialistas". Ou seja, a velha indústria cultural. A eterna relação do capitalismo com suas (re)produções culturais. Ora, é nas sociedades capitalistas, onde o dinheiro manda e desmanda, que fica claro que as ideologias das classes dominantes em geral restringem seus domínios nos pensamentos das consideradas culturas inferiores (por "eles").

Dessa forma, quando uma multinacional abre uma filial no Brasil, (pode ser a Ford), ela não está preocupada em desenvolver o subdesenvolvido. (É, parece que Olívio Dutra tinha razão). Seus objetivos são "seus lucros", quanto ao resto, nada interessa, basta ver como terminou o caso Ford.

Parece incrível que até hoje precisamos dar esclarecimentos dessa temática ou fenômeno.

Tem aqueles discursos ainda daqueles que dizem que "tem que privatizar para ter maiores condições, empresas mais poderosas, etc"...pois é, vide Brumadinho.

Ah, o capital! É, sempre o capital. A própria revolução industrial tão glorificada pelo "progresso", recrudesceu desumanidades aos sofridos trabalhadores. Uma vida de horror.

John Birley fez o seguinte relato ao jornal "The Ahston Chronicle" em 1849: "Nosso turno era das cinco da manhã até às dez da noite, nos sábados até às onze, e nos domingos tínhamos ainda que lavar as máquinas. Não havia tempo nem para café da manhã, não se podia sentar durante o jantar nem tempo para algum tipo de lanches..."

Num trecho do Manifesto Comunista, Marx e Engels dizem que a moderna sociedade burguesa apenas seguiu traços do feudalismo, sim, do feudalismo, substituindo velhas castas por novas formas de opressões.

Alguma diferença da nossa sociedade atual? Patrões de hoje se "indignam" com direitos trabalhistas. E a tal ordem estabelecida conta ainda com apoio de grandes corporações da mídia, e enquanto o próprio povo não reivindicar seus direitos e lutar contra esses conluios, o baile vai seguir.

Vivemos outro agravante, onde observamos que nossas utopias políticas desapareceram pela descrença de nossas classes políticas. Nossas esperanças ficam cada vez mais líquidas, diria Zigmunt Bauman.

Pelo menos temos mais opções às informações como net, internet ou mídias alternativas. Só assim teremos força contra culturas repressivas. E também, com as tais mídias repressivas.

Caso contrário, as pessoas e classes sociais que recebem essas repressões oriundas da indústria de culturas, seguirão as linhas de trem sem olhar para as paisagens.

Octávio Ianni reforça a ideia de que repressões culturais da burguesia estão presentes em diversos recursos "intelectuais, técnicos e organizados para defender-se o espectro de um mundo que poderia ser livre". Eles não estão para brincadeira, o poder em primeiríssimo plano. Um mundo que poderia ser livre?

Poderia, mas o furo é mais embaixo. Vocês não conhecem pessoas de classes baixas afirmando que "pensam que nem o cara da Globo"...

Tá dominado, como diz a música, assim não reinvidica, está anestesiado pelo desejo de fazer parte da classe superior. É Normal, porém, os parâmetros burgueses sempre estão "lembrando" suas diferenças.

Ela domina e precisa manter controle. A cultura repressiva faz parte do esquema. Já falei aqui, mas o momento é propício para citar a teoria da comunicação "Dupla Violência". A elite utiliza seu poder camuflado, com uma imposição, a primeira violência, com certa ocultação, a segunda violência formando então, a dupla violência.

Octávio Ianni vai por caminhos semelhantes com outros conceitos. No capítulo "Cultura Repressiva", no já citado livro, ele acrescenta que a indústria cultural está organizada em diversas formas para manipular. Eles induzem à medos (ou esperanças), limitando "a criatividade que contesta ou nega o presente ao qual se apega a cultura burguesa".

Lembro que não sou contra a elite, todos querem viver em ótimas condições financeiras, não é mesmo? e sim, alertar que "certas artimanhas" manipulam servindo a estas castas, onde injustiças estão inseridas...essa é minha luta...


81 visualizações1 comentário

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1 Comment


williakatia
Mar 25, 2021

Ótimo texto. Essa é a nossa luta, caro Trevisan. Oportunidades iguais, direitos iguais. Isso só será possível com uma Educação de qualidade, onde se pode aprender a tomar suas próprias decisões.

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