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  • cocatrevisan

Sons Perdidos

Atualizado: 13 de ago. de 2023

Quem me acompanha aqui já percebeu meu amor pela música e diante de um estranho paradoxo, do silêncio.

Não apenas a música mas sons da natureza, quando desligo luzes e fico no silêncio da noite ouvindo sons do vento, do barulho das bananeiras e dos riachos descendo o morro em frente da minha casa.

Os sons perdidos de outrora.

Sons milenares.

Sons perdidos de outras Eras que resistiram aos tempos.

Caiu na minha mão um livro interessantíssimo, quase 400 páginas, destacando um mundo com sons puros como quando um zumbido de uma abelha era música para nossos antepassados antes de chegar os barulhos das máquinas da revolução industrial.

Sons agradáveis e outros nada agradáveis. Alguns muito desagradáveis.

O compositor e autor canadense R. Murray Schaffer viaja recuperando sons perdidos em seu livro "A Afinação do Mundo".

Você pode até questionar a relevância da temática mas vai perceber como os sons estão inseridos em nosso cotidiano modificando até nossas atitudes.

Como Schaffer diz, um de seus objetivos é "mostrar de que modo a paisagem sonora havia evoluído no decorrer da história e de que modo as mudanças por que passou podem ter afetado nosso comportamento".

Percebem como o assunto é atual e essencial?

Até nossos hábitos são influenciados por sons da natureza e de invenções sonoras assim como nosso comportamento através de sons perdidos e significativos presentes em todos os processos civilizatórios.

Basta fazer uma fogueira num lugar silencioso para "ouvir" as labaredas do fogo lançando suas poesias.

Ou caminhar numa praia deserta sentindo as ondas cantando versos de Poseidon.

Ou ainda imaginar as fogueiras do mundo pré-agrícola de meio milhão de anos que, além de servir como ataque e defesa de nossos ancestrais, incrementou novos sons em suas rotinas.

Mas como hábitos mudam, ao natural ou não, as fases históricas seguem as acelerações evolutivas de Darcy Ribeiro com seus novos sons. Até mesmo as irrigações de solos circulavam com seus novos barulhos nas danças loucas das borboletas com novos sons ambientando ciclos históricos.

E que se agravaram na revolução industrial com suas máquinas inovadoras e barulhentas. Schaffer alerta como "a paisagem sonora, tanto na cidade quanto no campo foi transfigurada durante os séculos XVIII e XIX e já em 1832 haviam comitês de investigação quanto às condições de trabalho".

Assim como Charles Dickens denunciou os sons perdidos em "Tempos Difíceis", ao descrever o sofrimento de seu personagem Stephen quando se deitou sobre seu lear silencioso em seu momento de descanso.

E ainda tem as "onomatopéias" reproduzindo sons e ruídos através das palavras não é mesmo?

Porém, nossos ouvidos agradecem os sons celestiais de Shubert(Ave Maria) e Tosseli(Serenata) além de certos ruídos que parecem ser de outro mundo, como as músicas do "The Best", Bob Dylan, sons dos Deuses anunciando batidas na porta do Céu...

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