Clarice Lispector é literatura de ponta, essencial na compreensão humana e seus conceitos "desmedem" medidas quando diz que "eu tenho à medida que designo".
Ter limites à medida que for designado?
Meus limites são decididos por mim?
Não sei se era essa a intenção de Clarice mas se for, a medida que possuo será "designada" por cada um, eu acho...
Porém, desconfio que suas palavras soam como metáfora quando diz, por exemplo, que ao entrarmos no quarto vazio da empregada, poderemos sentir novos conceitos pois algo mudou para "saber quem eu era".
O vazio exigindo algo como quem sabe, a felicidade interior.
A doutora em Literatura EmÃlia Amaral (Unicamp), especialista em Clarice Lispector, diz que seus personagens carregam uma felicidade clandestina que superam o doloroso através de uma aceitação do próximo.
Aà surge algo que "implica se exilar de si próprio" diz EmÃlia, reforçando a relevância de nossos âmagos.
SÃmbolos interiores?
Como sÃmbolos que já me representaram no passado e que sÃmbolo realmente me tornei. Ela mesma disse que "cada um de nós é um sÃmbolo que lida com sÃmbolos".
Lembrei da luta dos adolescentes para entrar em grupos, se sentir incluÃdo, tanto para aquele que deseja ser maluco beleza ou patricinha.
Como se fossem sÃmbolos humanos.
A incoerência surge quando o jovem já fazendo parte de grupelhos, agora quer ser diferente ou fazer algo inusitado.
Um sÃmbolo de um sÃmbolo para recriar novos sÃmbolos enquanto a liberdade fica cerceada pois os grupos aceitam alguns sÃmbolos e rejeitam outros.
O preço da liberdade onde às vezes o silêncio censura a individualidade pela parceria do grupo. O rótulo pode sair caro ao menosprezar a liberdade.
E nas rodas vivas, o sÃmbolo restringe e voltamos a frase genial de Clarice "cada um de nós é um sÃmbolo que lida com sÃmbolos".
Numa sociedade onde o individualismo comanda grande parcela, complica-se para saber onde ir.
Raul Seixas já dizia "não sei onde tô indo, mas sei que tô no meu caminho" e Clarice Lispector emenda "não sei aonde me levará está minha liberdade, mas estou solta".
Sim, estamos soltos mas aà surge a angústia da liberdade.
Vejam só, nosso livre-arbÃtrio vai cobrar nossas decisões.
Ai, ai, ai ai...se eu errar a culpa será minha?
Não posso culpar ninguém?
Não quero mais certas liberdades e os sÃmbolos e rótulos que vão para o fundo dos mares mais profundos.
Rótulos à parte, não posso negar que os sÃmbolos representam sim, quesitos sociais. São parceiros de marcas e posições, redefinem conceitos, querendo ou não.
Talvez essa seja uma das essências de Clarice mas minhas vÃrgulas inserem outras temáticas onde sociedades se relacionam com culturas de massas.
Os muros, porém, circulam em nossas mentes, muros como sÃmbolos trancando objetivos.
Quero outros muros, aqueles do coração soltando vozes como Clarice sugeriu dizendo de "realidades que antes da linguagem, existem como um pensamento que não se pensa".
Como vemos no diálogo de Macabéa e OlÃmpico de Jesus revelando os tristes muros de Macabéa. Nunca esqueço da cena com José Drumond, poucas vezes um personagem como Macabéa me deixou tão angustiado diante de um ser humano miserável e humilhado que chega ao extremo de se sentir "meio gente".
Assim é Clarice, seus personagens nos absorvem com duras realidades, como talvez...sÃmbolos de gente.