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Tempo Morto

  • cocatrevisan
  • 15 de jul. de 2024
  • 2 min de leitura

O tempo, ah, o tempo ...mas o que é tempo?

Proust revelou e enquadrou o tempo, bom, para muitos ele é o cara nessa temática.

Pessoas discutem, umas felizes e outras agoniadas com tempo e talvez Zeca Pagodinho tenha razão, melhor deixar a vida (e o tempo) me levar.

Uma das frases mais significativas nesse quesito, em minha opinião, foi dita pelo ator Peter Lorre na década de 60, "o tempo, ora, o tempo é uma trapaça".

Taí, se ele é trapaceiro, melhor ignorar o que ele quer, o que almeja e suavizar sua interação com minha existência convivendo com ele de forma sensata.

Em "Fogo Morto", José Lins do Rego não está nem aí para o tempo e seu personagem, o saleiro mestre Zé Amaro, diz que está apenas "olhando" o tempo em frente de sua casa.

E quando não está trabalhando no mesmo local está admirando céus estrelados...do sertão paraibano...

Apesar de seu jeito "seco e rude" com respostas curtas e diretas, Amaro dizia estar em paz em seu pequeno mundo.

Sim, pequeno mundo mas "dele", não devia nada e ninguém mandava nele.

Porém suas palavras rabugentas causavam problemas na aridez do agreste e mesmo valorizando momentos da natureza, pois "só agora depois de velho era que pudera compreender aquela beleza de uma noite, a paz da noite sem a agressividade da luz quente" na miséria da mata, estava sempre em conflito consigo e com seus vizinhos.

É José Lins do Rego, para muitos, o Proust da nossa literatura.

Os tempos mortos até parecem reagir mas a incapacidade de Amaro complica uma vivência mais digna.

Sua aparência assustava as pessoas e lembrava Kafka, "na parede a sua sombra era como de um monstro, as pernas enormes, tremendo com a oscilação da lamparina, com as pernas pesadas, com o corpo doído".

Parecem aqueles dias nebulosos, nossos dias mortos, aqueles que queremos esquecer.

Tempos inúteis e tristes.

Faz parte.

Não somos palhaços para ficar sorrindo todo tempo, a dualidade do Bem e do Mal se reveza na jornada humana.

O tempo e suas artimanhas.

Zé Ramalho assegurou, foi um tempo que o tempo não esquece onde trovões gritam com suas vozes roucas.

Tempos mortos?

Para o infeliz Zé Amaro sim, culpava a mulher e batia na filha por sua tristeza, uma vida sem esperança, sem rumo.

A solidão do seco nordeste devorando seres num fogo cada vez mais fraco...fraquinho...

Diziam até que o mestre se transformava em lobisomem.

E ele não resistiu à dureza do agreste, suas injustiças e cometeu suicídio.

O fogo apagando...

Tempos desumanos.

Tempos mortos.

Tempos estranhos, pois para motivar sua vida, um coronel se sente revigorado quando sai para caçar um negro escravo fugitivo.

Porém, o tempo é vingativo, a decadência do ciclo da cana-de-açúcar afetou seus engenhos escravocratas.

E aí, finalmente o fogo, derradeiro, estava...morto...


 
 
 

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